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A Guerra na Síria (2011-atual)

Publicado: Quinta, 10 de Mai de 2018, 08h01 | Última atualização em Quinta, 06 de Janeiro de 2022, 13h46 | Acessos: 1668

Sandro Teixeira Moita1

O conflito na Síria tem sido foco de atenção mundial pelos efeitos derivados de suas peculiaridades e complexidades, cujas consequências têm sido sentidas no âmbito global, com resultados dramáticos para região. A guerra iniciou um dos maiores movimentos migratórios da História, produzindo imagens impactantes com a chegada dos refugiados a países da região, como Jordânia e Turquia, e, ainda, uma onda que chegou à Europa e provocou sérios problemas socioculturais.

A Síria ocupa um lugar estratégico para o domínio geopolítico do Oriente Médio. O país tem uma posição essencial para a região e para suas interações com o mundo. O lado que, ao possível fim do conflito, estiver com chances de vitória, terá em suas mãos importantes capacidades políticas, militares e econômicas.

Quem está envolvido?

Podem ser identificados quatro possíveis lados na guerra, que lutam entre si e que possuem o apoio de potências regionais ou globais. Dentro da região, travando o grosso da luta nos campos de batalha, podemos identificar:

  • o Governo Sírio, liderado pelo Presidente Bashar Al Assad, apoiado pelo Hizbullah;
  • a Oposição Síria, que é composta por grupos como o Exército Livre da Síria, e por grupos religiosos, como o Ahrar al-Sham, o Jaysh al-Islam e o Tahrir al-Sham, sendo este apontado como braço da Al Qaeda, embora não aceite essa condição;
  • o grupo terrorista Daesh (Estado Islâmico); e
  • as Forças Democráticas Sírias, compostas, em sua maioria, por Curdos e algumas etnias minoritárias do Nordeste da Síria.

O conflito estourou em 2011, quando, no espaço da Primavera Árabe, protestos populares foram reprimidos duramente pelo governo, o que abriu espaço para a decretação de uma rebelião que logo se tornou uma guerra civil. Tais atores locais, em alguns casos, só existem graças a um forte apoio externo, que não pode ser deixado de fora da análise, a despeito de suas causas e adesão por parte de simpatizantes. Assim, os lados contendores locais recebem apoio de diversos países da região, que os patrocinam com equipamentos, recursos ou mesmo com o envio de forças para lutar junto aos seus aliados. Dentre esses apoiadores, podem ser identificados:

  • o Irã, que apoia o Governo Sírio de Assad, com recursos, equipamentos e forças, com especial foco da Guarda Revolucionária Iraniana;
  • a Turquia, a Arábia Saudita e o Catar, principais apoiadores dos grupos da Oposição Síria. Os turcos apoiam grupos rebeldes e, junto a estes, lançaram diversas operações militares no Norte da Síria contra grupos curdos. Há, também, enfrentamentos contra forças do Governo Sírio. Arábia Saudita, Catar e alguns Estados do Golfo Pérsico têm apoiado grupos islâmicos com dinheiro, equipamentos e armas; e
  • Israel, que não apoia nenhum dos grupos contendores, se opondo firmemente a qualquer tentativa por parte do Irã de prover novos armamentos ao Hizbullah, o que motivou uma série de ataques ao grupo e a instalações do governo sírio.

A lógica regional, por sua vez, acaba por influenciar a política global. Considerando-se os interesses em torno do Oriente Médio, a guerra civil síria também sofre a ação das potências globais, em um espaço que causa tensões e anseios sobre se o choque de interesses ali presente não levaria o mundo a uma nova guerra global. Nesse sentido, confrontam-se dois principais atores e seus aliados:

  • os Estados Unidos, que lideram uma coalizão internacional integrada por países como a Austrália, Grã-Bretanha, França, Alemanha e mais setenta nações, apoiando principalmente as Forças Democráticas Sírias, em especial os curdos; e
  • a Rússia, que apoia o Governo Sírio de Assad, formando uma coalizão com este governo, com o Hizbullah e com o Irã. A entrada da Rússia na guerra, em 2015, foi decisiva para mudar o curso do conflito. O uso do poder de fogo russo foi vital para impedir que Assad caísse e para colocar as forças sírias e iranianas em um compasso de vitórias sobre grupos da Oposição Síria.

 

Qual é a situação atual?

Neste momento, Assad, com apoio dos russos, dos iranianos e do Hizbullah, tem domínio sobre pouco mais da metade do território do país, porém controla as grandes cidades, o que conta muito para uma eventual negociação de paz. A nordeste, os curdos têm um vasto domínio, apoiados pelos EUA e aliados, sem que sejam perturbados por Assad e suas forças, devido a não serem considerados inimigos do regime.

A norte, a província de Idlib resiste aos avanços de Assad, com grupos da Oposição Síria resistindo fortemente às ações do governo. E, ainda nesta região, tropas da Turquia, junto a grupos rebeldes, lançaram uma operação contra os curdos, tomando a cidade de Afrin e causando tensão com os EUA.

Em Damasco e seus arredores, o governo sírio lançou uma série de ofensivas com apoio da Rússia, para retomar áreas dominadas por grupos islâmicos, como o Estado Islâmico e o Jaysh al-Islam, enquanto forças do Hizbullah e iranianas foram atacadas pela aviação de Israel.

E o Brasil nisto?

Apesar da distância, o conflito sírio tem reflexos para o Brasil. Como uma guerra que envolve diferentes graus de participação de potências estatais, os desdobramentos dessa “longa crise síria” colocam em evidência as capacidades de resposta dos mecanismos de mediação e resolução e conflitos das organizações internacionais. As suas recorrentes inoperâncias ligam o alerta de risco aos princípios e aos instrumentos que as regem e apresentam impactos significativos para os arranjos políticos que sustentam a atual ordem internacional, exigindo clareza e assertividade do Brasil frente aos desafios políticos e militares atualmente postos no sistema internacional.

Do ponto de vista dos impactos diretos, famílias de brasileiros descendentes de sírios acompanham com apreensão a evolução do conflito, o que incentivou a vinda de alguns pequenos grupos de refugiados para a cidade de São Paulo, bancados por iniciativas realizadas por muçulmanos brasileiros sírio-libaneses.

Para além da questão humanitária, ainda há também a questão de como o conflito se desenvolve e como os combates ocorrem, o que pode conter lições valiosas a serem aproveitadas em estudos de Segurança e Defesa no Brasil. Nesse sentido, podem ser mencionados alguns elementos, técnicas e recursos que merecem estudo:

  • carros-bomba, caminhões-bomba e veículos blindados-bomba;
  • bombas termobáricas;
  • mísseis balísticos;
  • armas e obstáculos anticarro;
  • combate em túneis, especialmente urbano; e
  • uso de explosivos enterrados para demolição ou destruição de alvos, dentre outros.

1Professor nas áreas de História, Geopolítica e Estratégia da Divisão de Preparação e Seleção (DPS) da ECEME. Doutorando do PPGCM do IMM/ECEME. Coordenador Adjunto do Grupo Conflitos Bélicos do Observatório Militar da Praia Vermelha (OMPV).

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