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A logística militar terrestre contra a pandemia da Covid-19

Publicado: Segunda, 20 de Abril de 2020, 08h01 | Última atualização em Quinta, 06 de Janeiro de 2022, 13h56 | Acessos: 1397

Germano Botelho Pereira
Mestrando do PPGCM do ECEME

 A ameaça da COVID-19, doença transmitida pelo novo coronavírus, tem aumentado em todo mundo. A pandemia teve início na China, mas espalhou-se rapidamente por todos os continentes e vem trazendo sérios impactos para a saúde e a economia mundial. Os reflexos são percebidos no mercado global, inclusive nos setores de logística e transporte (OPENTECH, 2020).

Na crise, na qual o mundo e o Brasil se encontram devido ao novo coronavírus, não são apenas os profissionais de saúde que precisam continuar trabalhando. Outros exemplos são: operários das linhas de produção, motoboys, motoristas, portuários, ferroviários, almoxarifes e demais profissionais envolvidos na movimentação dos produtos, dentre os tantos que trabalham em áreas definidas como essenciais.

Isso vale desde o transporte das pessoas, afinal, sem transporte público, boa parte desses profissionais que precisam continuar indo e vindo para seus locais de trabalho não conseguiriam chegar, até o transporte de mercadorias. Não adianta ter produtos disponíveis nas fábricas ou nos centros de distribuição se não há como levá-los até o destino final. Equipamentos de proteção Individual (EPIs), remédios e demais produtos hospitalares e farmacêuticos precisam estar disponíveis para consumo nos hospitais e farmácias, assim como os alimentos precisam estar nos mercados (ILOS 2020).

Desta forma, o Ministério da Defesa ativou, no dia 20 de março de 2020, o Centro de Operações Conjuntas para atuar na coordenação e planejamento do emprego das Forças Armadas no combate à COVID-19. Foram ativados também 10 (dez) Comandos Conjuntos, que cobrem todo o território nacional, além do Comando Aeroespacial (COMAE), de funcionamento permanente.

Já o Exército Brasileiro (EB) mobilizou e ativou 10 (dez) Centro de Coordenação de Operações (CCOp), com o objetivo de proporcionar, inicialmente, apoio logístico aos governos dos estados, tudo para que a disseminação do novo coronavírus possa ser contida e cause o mínimo de danos à sociedade.

No mesmo sentido, o setor industrial nacional se desdobra para garantir abastecimento. Grandes fornecedores de bens considerados essenciais recorreram ao envio de alertas ao governo para evitar o desabastecimento no país com a evolução da COVID-19 (VALOR ECONOMICO, 2020). Esse esforço contra a pandemia é impulsionado pelo fomento à produção de medicamentos pelo Laboratório Químico e Farmacêutico do Exército (LQFEX), na cidade do Rio de Janeiro, que tem possibilidade de aumentar a produção de medicamentos, entre eles a Cloroquina, que está sendo testada como tratamento, ainda que se careça de estudos conclusivos até o momento.

Outra função logística relevante são os recursos humanos, segundo dados da Organização Mundial da Saúde – OMS, o percentual de trabalhadores da saúde afetados pela COVID-19 varia entre 8% e 10%. De 31 de dezembro de 2019 a 23 de março de 2020, o mundo contabilizou aproximadamente 335 mil casos de COVID-19, em 190 países. Já ocorreram cerca de 15 mil mortes. Os dados foram apresentados dia 24 de março, no webinar “EPI-WIN COVID-19” da OMS, com o tema saúde pública e distanciamento social, que teve a participação do pesquisador da Fundacento, Eduardo Algranti. (FUNDACENTRO, 2020). Estes números não param de crescer. Com a finalidade de apoiar as Secretárias Estaduais de Saúde, os diversos Comandos Conjuntos estão recebendo solicitações de apoio em profissionais de saúde. Este apoio foi materializado com a participação de militares do Exército ao lado de autoridades sanitaristas na campanha de vacinação contra a gripe Influenza no dia 26 de março, no Riocentro, posto que adotou o sistema "drive-thru", processo mais dinâmico que evita o deslocamento para um posto de vacinação comum.

Um dos vetores mais importantes da logística são os transportes, segundo o Departamento de Custos Operacionais da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (DECOPE) está monitorando diariamente o impacto do volume de cargas desde o início da pandemia no Brasil. A atividade transportadora corresponde a cerca de 65% de tudo o que circula no país e tem influência no abastecimento de cidades e na circulação de tudo o que é produzido. Diante das medidas de restrição que impactaram o consumo geral da população com o fechamento de serviços não essenciais, o transporte de cargas vem sofrendo as consequências, segundo os dados colhidos pelo DECOPE, o departamento irá acompanhar as empresas até o fim da crise, divulgando os resultados semanalmente através da pesquisa.

Os dados demonstram também que, para cargas fracionadas, aquelas que contêm pequenos volumes, a queda chegou a 29,81%, número que corresponde a entregas para pessoas físicas, distribuidores, lojas de rua e de shoppings, além de supermercados e outros. Já para cargas lotação, que ocupam toda a capacidade dos veículos, a pesquisa aponta queda de 22,91%, demonstrando desaceleração do agronegócio, do comércio geral e de grande parte da indústria.

Segundo o presidente da NTC, Francisco Pelucio:

Os dados são preocupantes, mas dentro do esperado, tendo em vista que, após o decreto de vários governadores para o fechamento do comércio em geral e das empresas, era bem provável que chegasse perto desse número. Precisamos ficar atentos às medidas restritivas orientadas pelas autoridades públicas e pelos órgãos de saúde a população, para que possamos retornar às nossas atividades que dependem do não agravamento da pandemia (NTC&Logística, 2020).

Diante da necessidade de prestar apoio de transporte, o Exército Brasileiro por meio do 1º Batalhão Logístico de Selva (1º B Log Sl), em apoio à Operação Acolhida-Logística Humanitária, loteou e embarcou materiais, pertencentes ao Hospital de Campanha do Exército (H Cmp), de Pacaraima (RR) a Boa Vista. Cerca de 40 (quarenta) militares participaram da atividade, na qual foram empregadas 15 viaturas. O H Cmp, após montado, apoiará na prevenção do novo coronavírus, uma vez que é capaz, inclusive, de operar em zonas contaminadas por agentes químicos, biológicos ou radiológicos.

Outra possibilidade é o transporte de suprimentos na região Amazônica, por meio das aeronaves do 4° Batalhão de Aviação do Exército (4º BAVEx). No último dia 25 de março, o 12° Batalhão de Suprimento (12º B Sup), sediado em Manaus-AM, supriu com 300 kg de equipamentos de proteção individual (EPIs), como luvas, álcool, máscara e avental, a guarnição de Boa Vista (RR) para colaborar na prevenção e combate ao novo coronavírus (EXÉRCITO BRASILEIRO, 2020).

Diante do avanço da pandemia, os diversos setores da logística nacional promovem campanhas para informar a população brasileira sobre o status das atividades, evitando pânico e desabastecimento, além de conscientizar as autoridades sobre a necessidade de garantir as condições mínimas para os trabalhadores não paralisarem os serviços.

Nesse cenário de incertezas, crê-se que a logística nacional suportará os desafios para vencer a pandemia e pode contar com o apoio da logística militar terrestre no sentido de produzir medicamentos; disponibilizar militares do serviço de saúde; montar barracas para triagem de pacientes com sintomas do COVID-19 em diversos hospitais e Santas Casas; transportar materiais de proteção individual, equipamentos médicos e hospitais de campanha; desinfecção em estações de transporte público; oferecer suporte a secretarias de saúde em campanhas voltadas para idosos, ações de controle de segurança nas fronteiras; além de ações de controle de proliferação no novo coronavírus para seu público interno e familiares.

Contudo, a atual crise ilustra a precariedade do nosso setor logístico que pode ser utilizado como vertente para disseminação de ações maliciosas sobre desabastecimento. No futuro, cresce de importância de investimentos mais robustos na infraestrutura logística do país e, por consequência, melhores produtos e serviços, maior competitividade e menores custos serão oferecidos aos brasileiros.

Desta forma, fica evidente a necessidade de melhorar a consciência da sociedade no sentido de desenvolver o potencial da logística nacional, inclusive de defesa, e de mobilização, buscando ao máximo a integração e a compatibilização da logística militar terrestre com a infraestrutura logística nacional.

Rio de Janeiro - RJ, 06 de abril de 2020.

 



Como Citar este documento:

PEREIRA, Germano Botelho. A logística militar terrestre contra a pandemia da Covid-19. Observatório Militar da Praia Vermelha. Rio de Janeiro: ECEME. 2020.

Referências:

EXÉRCITO BRASILEIRO. Noticiario do Exército. http://www.eb.mil.br/web/noticias/noticiario-do-exercito . Acessado em 30 de março de 2020.

FUNDACENTRO. Até 10% dos profissionais da saúde são atingidos por Covid-19. http://www.fundacentro.gov.br/noticias/detalhe-da-noticia/2020/3/ate-10-dos-profissionais-da-saude-sao-atingidos-por-covid-19. Acessado em 29 de março de 2020.

ILOS. A Logística não pode parar. Disponível em: https://www.ilos.com.br/web/a-logistica-nao-pode-parar/ Acessado em 29 de março de 2020.

MINISTÉRIO DA DEFESA. Centro de Operações Conjuntas do MD é ativado para ações de combate à COVID-19. https://www.defesa.gov.br/noticias/67179-centro-de-operacoes-conjuntas-do-ministerio-da-defesa-e-ativado-para-acoes-de-combate-ao-covid-19. Acessado em 30 de março de 2020.

NTC&Logística. Impacto do coronavírus no transporte de cargas chega a 26% segundo dados do DECOPE. https://www.portalntc.org.br/publicacoes/blog/noticias/rodoviario/impacto-do-coronavirus-no-transporte-de-cargas-chega-a-26-segundo-dados-do-decopeAcessado em 30 de março de 2020.

OPENTECH. Impacto do coronavírus na logística. Disponível em: https://www.opentechgr.com.br/impacto-do-coronavirus-na-logistica/. Acessado em 29 de março de 2020.

VALOR ECONOMICO. Setor industrial se desdobra para garantir abastecimento. Disponível em: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/03/23/setor-industrial-se-desdobra-para-garantir-abastecimento.ghtml. Acessado em 29 de março de 2020.


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