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Covid19 no Brasil e a importância das medidas de isolamento social

Publicado: Terça, 17 de Março de 2020, 08h01 | Última atualização em Quinta, 06 de Janeiro de 2022, 13h52 | Acessos: 1401

Profa. Dra. Mariana Carpes

 Em 26 de fevereiro de 2020, o Ministério da Saúde confirmou o primeiro caso da Covid-19 no Brasil. Tratou-se de um homem de 61 anos que regressava de viagem a Itália (um dos países mais afetados pelo vírus fora da China, marco zero da doença). Desde a confirmação do Ministério da Saúde (MS), o Brasil já registra 234 casos de contaminação, e um 1 óbito, levando estados e municípios a adotarem medidas de isolamento social. Isso implicou a suspensão de eventos com aglomerações - shows, jogos, e mesmo eventos religiosos -, bem como a suspensão de aulas (das redes pública e privada), redução de jornada de funcionários públicos e trabalho remoto quando possível. Dada a baixa letalidade do vírus - uma média de 3% -, alguns ainda questionam a necessidade da adoção de tais medidas, alegando exageros e os possíveis impactos negativos que o isolamento social traria para o desenvolvimento do país. Por que, então, é tão importante respeitar o isolamento social?

Antes de responder tal questionamento, convém nos debruçarmos minimamente sobre as características da Covid-19. Trata-se de mais um membro da família dos coronavírus, que ganham essa denominação por seu desenho se assemelhar ao de coroas ao redor de um núcleo. A doença chamada Covid-19 resulta da contaminação pelo vírus SARS-Cov-2 e, em pessoas com sistema imunológico saudável, aparece como uma forte gripe. Nos casos mais graves - normalmente pessoas acima de 60 anos, pacientes crônicos ou com sistema imunológico deprimido ou suprimido - a doença evolui para um quadro de deficiência respiratória aguda com necessidade de internação.

O vírus foi primeiro identificado na província de Wuhan, na China continental, em dezembro de 2019. Os primeiros registros falavam de uma pneumonia de causas desconhecidas - quer dizer, uma pneumonia atípica que não respondia à terapêutica medicamentosa comumente usada para o tratamento de pneumonias bacterianas. Não tardou para que a doença chegasse aos territórios vizinhos, tendo havido relatos de manifestações em Hong Kong pedindo a expulsão de chineses vindos do continente, identificados como os responsáveis pela difusão da doença. O temor e as reações tinham amparo na história recente da região. Em 2002-2003, a Ásia foi palco da primeira epidemia da Síndrome Agudo Respiratória Sistêmica (SARS) que contaminou 8096 pessoas e vitimou outras 774 ao redor do mundo. Diferentemente da Covid-19, a SARS possuía uma taxa de mortalidade mais alta (9,6%), mas com uma taxa de disseminação menor do que a do vírus atual, razão pela qual a epidemia ficou contida a 17 países.

A velocidade com que o SARS-Cov-2 se dissemina é o ponto chave para se defender as medidas de isolamento social. Estima-se que a partir da 50° contaminação, a dispersão do vírus decuplique a cada 7, 2 dias aproximadamente. Isso gera uma sobrecarga potencial dos sistema de saúde, cuja capacidade não consegue suprir a demanda, mesmo em países cuja estrutura hospitalar inicial não é deficitária. Em países com grande população acima de 60 anos - como é o caso da Itália - ou com problemas crônicos de sobrecarga na rede pública de saúde, a disseminação exponencial do vírus torna-se uma verdadeira “crônica de uma morte anunciada”.

Não se trata aqui de fazer uma crítica ao SUS - modelo de saúde pública reconhecida internacionalmente - tão pouco de criticar a atuação dos agentes de saúde - que muitas vezes trabalham acima de suas capacidades. Trata-se sim de observar que diante de uma pandemia, nenhum país tem condições de responder a altura da demanda - é o que temos visto na Ásia, Europa e América do Norte. Na América do Sul, ainda temos um outro desafio: não sabemos como o vírus se comporta em países tropicais. Particularmente no Brasil, não podemos precisar ainda que, nas condições socioeconômicas existentes, as taxas de letalidade se manterão as mesmas que observamos na Europa e Ásia. Por fim, cumpre notar que em uma democracia, o controle social encontra barreiras próprias da preservação das liberdades individuais e direitos humanos, não sendo possível simplesmente importar modelos de quarenta adotados com sucesso em outros países de mundo. Nesse sentido, a solução do momento - ainda que paliativa - é o isolamento social.

Tal medida é ainda mais necessária porque o Brasil atravessa outros quadros epidêmicos concomitantes ao da Covid-19. Sarampo, Dengue, Chikungunya, Zika e Tuberculose compõe o cenário de desafios à saúde pública no Brasil, juntamente com a cronicidade da insegurança alimentar e nutricional das camadas mais pobres de população. Uma disseminação exponencial do vírus levará médicos e enfermeiros à triste decisão draconiana de escolher quem terá e quem não terá atendimento. O isolamento não impedirá a propagação do vírus, mas como sociedade é medida responsável e possível a muitos de nós. O senso de coletividade permite que os mais jovens - e que não façam parte dos grupos de risco - ao se protegerem, protejam aqueles mais vulneráveis, para os quais a contaminação aumentaria o risco de óbito. Façamos a nossa parte!



Fontes:

https://www.who.int/csr/sars/country/table2004_04_21/en/

https://www.who.int/csr/don/05-january-2020-pneumonia-of-unkown-cause-china/en/

https://sci-hub.tw/10.1002/jmv.25766

https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/03/17/estado-de-sp-tem-o-primeiro-caso-de-morte-provocada-pelo-coronavirus.ghtml

https://morningstaronline.co.uk/article/hong-kong-protesters-call-expulsion-mainlanders-following-respiratory-disease-outbreak

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