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A importância histórica da vacinação e coordenação interagências no combate às epidemias no Brasil

Publicado: Quarta, 02 de Dezembro de 2020, 09h00 | Última atualização em Segunda, 19 de Abril de 2021, 13h57 | Acessos: 691

Gustavo Macedo

Prof. Dr. de Relações Internacionais da FMU e Pesquisador da USP

Ana Ligia Cristiano Silva

Graduando em Relações Internacionais da FMU

Lucas Lima Centurião

Graduando em Relações Internacionais da FMU

Tayna Salviano

Graduando em Relações Internacionais da FMU

Thayná Oliveira de Andrade

Graduando em Relações Internacionais da FMU

 

 As constantes epidemias do mundo moderno intensificaram o processo e a necessidade de desenvolver métodos eficazes no combate às doenças infecciosas. De modo geral, também serviram como base para a implementação de medidas governamentais que pudessem facilitar o acesso da população aos serviços e benefícios da vacinação ao longo dos anos.

 No Brasil, o período que corresponde ao final do século XIX e início do século XX representa um marco para diversas transformações tanto em sua estrutura político-econômica quanto social.

 Mesmo com os surtos de doenças infecciosas, a vacinação não era comum e tampouco bem recebida pela população (Senado Federal, 2019). A baixa adesão às campanhas motivada por notícias falsas, a dificuldade em obter financiamentos e a falta de acesso aos serviços por parte da população são fatores que contribuíram para o aprofundamento de surtos, com potencial epidêmico.

 É importante destacar que durante as primeiras décadas do século XX a estrutura precária de saneamento básico no país aumentava ainda mais o risco de propagação de doenças infecciosas, tais como a peste bubônica e a febre amarela, (Senado Federal, 2019).

 Não obstante, no intento de conter os avanços dessas doenças e auxiliar em questões de saúde pública foram criados o Instituto Soroterápico, no Rio de Janeiro, em 1900, e o Instituto Butantan, em São Paulo, em 1901, com o objetivo de fornecer assistência ao Estado em saúde e estudos na área de imunobiológicos.

 Ao longo dos anos, as constantes discussões acerca de políticas públicas na área da saúde tiveram como objetivo a criação de um sistema mais abrangente e capaz de disponibilizar as vacinas à população de forma ampliada. Entre os investimentos destacam-se a criação do Programa Nacional de Imunização, em 1973, com a responsabilidade de coordenar as políticas de vacinação e do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social, em 1977, responsável por garantir maior acessibilidade no âmbito da saúde.

 Como continuidade dos investimentos e políticas públicas na área da saúde, foi criado o SUS (Sistema Único de Saúde), no ano de 1988, com a principal atribuição de garantir serviços gratuitos de saúde à toda população, incluindo o acesso a medicamentos, vacinação e tratamentos específicos.

 De acordo com dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde, o SUS possui mais de 36 mil salas de vacinação e aplica, por ano, aproximadamente 300 milhões de imunobiológicos (Marques, 2018). Uma pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Medicina, no ano de 2015, demonstrou que 75% da população brasileira era atendida pelo SUS, número que representava, à época, mais de 150 milhões de pessoas (Conselho Federal de Medicina, 2015).

 No entanto, embora a população brasileira seja considerada uma das mais imunizadas do mundo, dados recentes indicam constantes quedas em aplicações de vacina no país desde 2018 juntamente com o retorno de doenças já erradicadas, como o Sarampo (Roncolato, 2018). Diante disso, em 2019, a Organização Pan Americana de Saúde (OPAS/OMS) retirou a certificação de erradicação da doença que o Brasil havia conquistado em 2016 (Mariz, 2019). Essas mudanças ocorrem, principalmente, por conta da falsa sensação de segurança de que certas doenças já não existem mais e pelo crescimento dos movimentos antivacina (Roncolato, 2018).

 Apesar dos indicadores recentes, o Brasil ainda possui estruturas mundialmente reconhecidas no campo da produção de vacinas, sendo o Instituto Butantan o principal produtor de soros e vacinas para o SUS (Covas, 2020); e a Fundação Oswaldo Cruz, uma das maiores exportadoras de vacina da Febre Amarela que, somente no ano de 2017, exportou mais de 2,8 milhões de imunobiológicos para a Venezuela, Angola, Colômbia e Equador (PONTE; PIMENTEL, 2017).

 No âmbito da assistência médica, destaca-se, também, a atuação diferenciada das Forças Armadas, responsável por realizar ações sociais de atendimento médico e vacinação em tribos indígenas e comunidades ribeirinhas, como no caso da Operação Gota, na região Norte do país, que possibilitou a aplicação das vacinas do calendário básico do Ministério da Saúde (Ministério da Defesa, 2019). Assim como a campanha contra a gripe Influenza (H1N1 e H3N2) nas regiões Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste, que em março de 2020. (Ministério da Defesa, 2020).

 É neste quadro nacional que surge em dezembro de 2019 o novo Sars-cov-2, causador da Covid-19, que, em poucos meses, passou ao status de pandemia e trouxe ao mundo uma doença para a qual ainda não há vacina ou medicação com eficácia comprovada.

 Neste cenário de enfrentamento da atual pandemia, o SUS representa o principal instrumento brasileiro de combate à propagação da doença por sua abrangência e capilaridade, e encontra nas Forças Armadas um importante aliado no combate à Covid-19 por meio da inspeção nos portos feita pela Marinha, no controle das fronteiras pelo Exército Brasileiro, e da Força Aérea pelo translado de brasileiros no exterior, e a prontidão para a implementação de hospitais de campanha em todo o território nacional.

 Diante disso, as Forças Armadas do Brasil iniciaram a Operação COVID-19, que se dedica às campanhas de conscientização, higienização e apoio logístico com instalações de triagem. A Operação também conta com 28 mil militares da Aeronáutica, Marinha e Exército trabalhando na operação (Ministério da Defesa, 2020).

 Por fim, é possível considerar que a experiência brasileira acumulada ao longo dos anos de políticas públicas interagências, e um Sistema Único de Saúde universal e gratuito cobrindo todo o território nacional serão capazes de fornecer as estruturas necessárias para que o Estado brasileiro organize uma futura campanha de vacinação contra o Sar-Cov-2 de maneira assertiva. A despeito dos avanços técnico-científicos por essas instituições nacionais, tal afirmação não poderá ser feita caso a tensão política que persiste no cenário doméstico retarde a adoção de medidas urgentes coordenadas por essas agências no combate à COVID-19 e a evitarmos que se repitam erros do passado.

 

Rio de Janeiro - RJ, 15 de dezembro de 2020.


Como citar este documento:
MACEDO, Gustavo et al. A importância histórica da vacinação e coordenação interagências no combate às epidemias no Brasil. Observatório Militar da Praia Vermelha. São Paulo: ECEME. 2020.


Referência:

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