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Os Desafios da Gestão e Inovação Tecnológica no Processo de Transformação do EB

Publicado: Segunda, 05 de Novembro de 2018, 08h01 | Última atualização em Segunda, 04 de Março de 2024, 15h34 | Acessos: 19876

Data:05/11/2018

Para que o País tenha condições de se desenvolver e de defender a sua soberania é imprescindível não apenas dominar todo o ciclo de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias críticas, mas, sobretudo, inovar, lançando produtos de grande valor agregado no mercado, atendendo os setores de defesa, segurança e as mais diversificadas atividades econômicas e de serviços de nossa sociedade. A inovação é a mola propulsora do crescimento econômico, do desenvolvimento e da soberania.

A Era do Conhecimento e a 4a Revolução Industrial vêm promovendo mudanças significativas em todos os ramos da sociedade, particularmente na defesa. Os novos, sofisticados e surpreendentes materiais, os eficientes e minúsculos sensores, a automação, a inteligência artificial, a realidade virtual, os sofisticados meios de comunicação, avanços na área de processamento digital de sinais e a convergência digital de diversos campos do conhecimento humano vem contribuindo para a interconectividade entre pessoas e "coisas" de diversas naturezas, aumentando a eletrônica embarcada nos sistemas bélicos e impulsionando a inovação e o desenvolvimento, mas, ao mesmo tempo, estabelecendo óbices para a soberania e segurança nacionais, especialmente para países que possuem baixa capacidade tecnológica acumulada em setores críticos. A Ciência e a Tecnologia (C&T), que sempre foi importante para a Expressão Militar do Poder Nacional, torna-se peremptória não apenas para o desenvolvimento das capacidades militares necessárias para as Forças Armadas cumprirem com o seu papel constitucional, mas também para o País não se vergar a vontades alheias e concretizar seus Objetivos Nacionais Permanentes, atuando em todas as Expressões do Poder Nacional com liberdade de ação, sem relativismos e imposições exógenas.

 
       radio    radar
 
Importantes tecnologias com forte componente de sofisticadas técnicas de processamento digital e de comunicações, como a família de radares e o rádio definido por software que vem sendo desenvolvido pelo Centro Tecnológico do Exército (CTEx) com algumas empresas contratadas da BID nacional.

 Em decorrência de um amplo estudo realizado pelo Estado-Maior do Exército (EME), o Exército Brasileiro iniciou um processo de transformação com o objetivo precípuo de transmutar estruturas concebidas sob a égide da Era Industrial em uma organização típica da Era do Conhecimento, porém preservando princípios e valores éticos e morais que caracterizam e notabilizam essa secular, permanente e regular Instituição. Iniciado em 2010, o Processo de Transformação vai além de meras adaptações, modernizações ou aquisição de equipamentos, abrangendo mudanças profundas em sua estrutura organizacional e criando novas capacidades no médio e longo prazos.

O diagnóstico contido neste estudo destacou a "precária mentalidade de inovação" como sendo uma das principais oportunidades de melhoria ligadas à dimensão humana1. Outros estudos e documentos do nível político e estratégico (Politica Nacional de Defesa, Estratégia Nacional de Defesa e Livro Branco de Defesa) destacam a importância de se promover uma maior integração e envolvimento da parcela civil da população em assuntos de defesa, mormente no campo científico e tecnológico2. Esses elementos compõem um cenário que remete a necessidade de se implantar modelos de inovação aberta em assuntos ligados à defesa, uma abordagem moderna e desafiadora até mesmo para os países avançados. Face à importância dessas temáticas para o futuro da Instituição, decidiu-se pela criação de estruturas específicas para realizar a gestão da inovação. Assim surgiu a Agência de Gestão e Inovação Tecnológica (AGITEC).

    descerramento placalogoagitecsolenidade inauguracao

Localizada na Região de Guaratiba, no Rio de Janeiro, ativada como Organização Militar do Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT) do Exército Brasileiro (EB) em janeiro de 2018, a AGITEC se insere no contexto geral de transformação do EB, mas especificamente na vertente de C&T, na medida em que resulta diretamente do processo de transformação do Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação do Exército (SCTIEx).

A agência visa lidar com áreas fulcrais da Era do Conhecimento e com modelos de inovação modernos, cujas implantações, em sua plenitude, representarão uma quebra de paradigma com relação ao modelo ainda vigente, particularmente no que se refere às atividades de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento). Ela pretende, sobretudo, contribuir para mudar características avessas ao comportamento inovador, como a intolerância ao erro, bem como para aumentar a cooperação com diversos setores da sociedade no campo científico tecnológico, contribuir com a adoção do modelo de inovação aberta, dinamizar o portfólio de ativos intangíveis e empreender trabalhos prospectivos, fornecendo elementos e subsídios para estudos da Guerra do Futuro.

Gestão do Conhecimento, Gestão da Propriedade Intelectual, Prospecção Tecnológica e Promoção da Cultura de Inovação são áreas complexas, multidisciplinares e abrangentes que passam a ganhar destaque com a criação da AGITEC. Nesse diapasão, os modelos de inovação aberta e hélice tríplice servem de referencial teórico para as ações da AGITEC. Propostos e discutidos há várias décadas, no âmbito mundial, esses modelos são de difícil implantação na área da defesa, particularmente quando as estruturas políticas, econômicas e sociais desenvolveram ao longo de séculos uma cultura de pouca interdependência e cooperação entre os atores principais do Sistema Nacional de Inovação e, especialmente, nos países em que o conceito de Soberania Nacional não figura no ideário popular como necessidade básica e premente.

Passar de um modelo tradicional, comumente denominado de inovação fechada, em que a participação da parcela civil da sociedade em atividades de P&D da defesa se dá, principalmente, sob a forma de contratos, para um modelo cooperativo de inovação em que os diversos atores (forças armadas, universidades, empresas tradicionais e startups, investidores anjos, capital de risco e órgãos de fomento) participam de um mesmo empreendimento e compartilham seus resultados, em que os ativos intangíveis fluem para ambos os lados de uma fronteira permeável que delimita as áreas de atuação dos órgãos de P&D do Exército, impõe sérios e instigantes desafios, como a gestão do sigilo, da propriedade intelectual, do licenciamento de tecnologia, dos dividendos gerados pelas inovações, além dos corriqueiros de se inovar em área de alto valor agregado e de alto risco tecnológico, como geralmente é o caso da defesa.

Nesse modelo, as atividades de P&D do EB poderiam passar a se beneficiar de inovações voltadas para este mercado; problemas específicos das atividades de P&D desenvolvidas no bojo do EB poderiam ser transformados em desafios a serem enfrentados pelas universidades, startups e empresas; resultados emblemáticos de inovação poderiam ser reconhecidos com premiações; aumentariam as chances das tecnologias oriundas do Exército serem aproveitadas para gerar inovações nos mais variados setores da economia nacional, contribuindo assim para o crescimento econômico e o desenvolvimento nacional, como ocorre nos países mais desenvolvidos, nos quais a defesa é indutora do desenvolvimento científico e tecnológico de uma nação. Os desafios são enormes mas o objetivo é altamente compensador e nos impulsiona a persegui-lo, motivados e com Fé na Missão, ciosos de nosso dever e cônscio das enormes expectativas do Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação do EB com relação à atuação da Agência.

A ruptura do modelo vigente torna-se imperiosa, pois, de um lado, a ampliação da participação da sociedade brasileira em assuntos de defesa, sobretudo em aqueles voltados às áreas de Ciência, Tecnologia e Inovação, é condição necessária para se atender as demandas de um país continente, de forma autônoma e soberana. De outro, difundir as tecnologias desenvolvidas pelo EB para a sociedade brasileira é fulcral para gerar inovações e tornar o País mais competitivo. Estabelecendo-se uma relação sinérgica e um círculo virtuoso em proveito da defesa, da soberania e do desenvolvimento.

As áreas de atuação da AGITEC (Gestão do Conhecimento Científico e Tecnológico, Gestão da Propriedade Intelectual, Prospecção Tecnológica e Promoção da Cultura da Inovação) visam contribuir com a criação de um ambiente favorável ao desenvolvimento de inovação no campo científico-tecnológico, sobretudo em colaboração com os diversos setores da sociedade (hélice tríplice), bem como realizar a gestão da propriedade intelectual do Exército, conforme política do Núcleo de Inovação Tecnológica do (NIT) do EB (inovação aberta).

Especificamente, busca-se identificar tecnologias portadoras de futuro; avaliar o impacto dessas tecnologias nas capacidades pretendidas para o EB em um horizonte temporal de médio e longo prazos; mensurar a capacidade tecnológica (prontidão tecnológica) nacional nessas tecnologias; realizar a gestão e a divulgação do portfólio de inovações do EB; desenvolver metodologias para codificar o conhecimento tácito; valorar tecnologias desenvolvidas com a participação do EB; promover competições e premiações para colaborar com a difusão da cultura de inovação dentro da Força Terrestre; desenvolver indicadores de inovação; incentivar a criação de redes de inovação; e apoiar a realização de eventos promovidos pelo Sistema Defesa, Indústria e Academia (SisDIA), outra importante iniciativa da Força Terrestre para promover a hélice tríplice.

Lançar luz no futuro é uma tarefa hercúlea e perseguida desde os mais remotos tempos até os dias atuais. Em cada era ou momento histórico, desde os tempos dos oráculos e dos profetas até as predições científicas dos tempos modernos, o homem tenta descortinar o futuro para aplacar seus medos e anseios, para se preparar para os desafios vindouros, para tentar vislumbrar um futuro melhor, ou até mesmo para projetar um futuro pretendido desencadeando, no presente, ações para alcançá-lo. Nessa busca, até mesmo discernir seus contornos mais amplos é uma tarefa complexa, mas possível e com grandes benefícios aos planejamentos estratégicos. A AGITEC vem empreendendo esforços no sentido de desenvolver modelos e metodologia para prospectar as tecnologias portadoras de futuro, avaliar as criticidades dessas tecnologias e as competências nacionais em áreas correlatas, para, caso necessário, serem envolvidas em projetos de pesquisa básica e aplicada, bem como para participar de projetos de P&D.

Sabe-se que a área de defesa tem interesse em todos os tipos de conhecimento, tecnologias e áreas de pesquisa. Porém, sabe-se também que não há nação que consiga manter-se no estado da arte, ou até mesmo em alto nível de desenvolvimento em todas as áreas do conhecimento humano. É preciso estabelecer foco, com base nas necessidades, vocação e potencial futuro das tecnologias. É preciso priorizar! Nesse mister, reside outro grande desafio da Agência, estimar os reflexos de tecnologias identificadas como portadoras de futuro nas capacidades pretendidas pela Força Terrestre, mormente nas de longo prazo. Não obstante a complexidade dessas atribuições, cabe ainda revelar as tecnologias críticas, aquelas que podem ser negadas, ou que mesmo sendo comercializadas no mercado internacional venham a fragilizar os sistemas militares com as suas adoções.

Assim sendo, faz parte da missão da AGITEC desenvolver metodologias e, em conjunto com as áreas doutrinária e operacional, inferir sobre o alinhamento estratégico das tecnologias prospectadas, fornecendo subsídios para o planejamento estratégico da Força Terrestre, sobretudo no campo da ciência e tecnologia.

A esse conjunto de atribuições instigantes, soma-se ainda a de promover, desenvolver e contribuir para incutir no seio do Exército o despertar para a importância da inovação. Nesse sentido, a AGITEC pretende colaborar com a realização de premiações, competições e apresentar desafios para superar barreiras momentâneas de projetos de interesse do Exército.

Realizar a Gestão do Conhecimento Científico e Tecnológico é outra atribuição complexa da AGITEC. No atual momento histórico da humanidade, grande parcela do conhecimento é tácito, os empreendimentos de pesquisa envolvem muitos atores de variadas expertises, os empreendimentos de P&D são de longo prazo e a gestão dos recursos humanos assume papel fundamental. É nesse cenário que a AGITEC pretende contribuir com a proposição de métodos, processos e procedimentos para gerir adequadamente os conhecimentos gerados pelo EB, particularmente no campo científico e tecnológico. Um desafio que deve ser enfrentado com uma combinação engenhosa de arte e ciência.

Por fim, porém não menos importante, cabe a Agência realizar a Gestão da Propriedade Intelectual, no papel de braço executor do NIT do Exército Brasileiro. Praticante de um modelo de inovação fechada (tradicional) e como consequência disso, o EB possui um portfólio de ativos intangíveis muito modesto, malgrado desenvolver tecnologias genéricas, duais e de alto valor agregado. Dinamizar esse setor é o papel da área de Gestão da Propriedade Intelectual da AGITEC, em apoio a todas as Instituições de Ciência e Tecnologia do Exército Brasileiro, não restritas aquelas orgânicas do Departamento de Ciência e Tecnologia.

AGITEC: CONECTAR – INOVAR – TRANSFORMAR

Juraci Ferreira GALDINO – Cel QEM
Chefe da Agência de Gestão e Inovação Tecnológica


1 BRASIL,Exército Brasileiro, O Processo de Transformação do Exército, 3a Edição, pág. 35
2 _______, Ministério da Defesa Nacional de Defesa & Estratégia Nacional de Defesa, Brasília, 2012, disponível em https://www.defesa.gov.br/arquivos/estado_e_defesa/END-PND_Optimized.pdf.

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