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As Operações desenvolvidas em um Teatro de Operações predominantemente Terrestre e a aplicação do Processo Operativo da FTC durante a Operação Amazônia, com destaque para as Funções de Combate, concluindo sobre suas contribuições para o emprego operaciona

Publicado: Segunda, 21 de Dezembro de 2020, 08h21 | Última atualização em Segunda, 21 de Dezembro de 2020, 15h16 | Acessos: 1743

Leandro Basto Pereira

Adjunto da célula de Operações do CCOp/CMA

 1. Introdução

 A Operação Amazônia foi concebida para realizar um adestramento de Grande Comando Operacional. O Exercício abordava uma disputa territorial entre os países Azul e Vermelho em torno de uma região denominada Delta Prometido, o que culminou com a ativação do Teatro de Operações Norte por parte de Azul, bem como, o estabelecimento de suas forças componentes para fazer frente à ameaça.

 Para abordar a aplicação do processo operativo da FTC durante a supracitada operação, faz-se mister registrar que o mencionado processo permite a visualização geral dos passos necessários ao cumprimento da missão do escalão da Força Terrestre (F Ter) designado como FTC, de forma encadeada no tempo e no espaço, desde a situação de normalidade até o retorno a essa situação, ou seja, engloba as atividades e tarefas necessárias para gerar o poder de combate da FTC, cumprir a missão e, posteriormente, retornar à situação de normalidade (Brasil 2019).

 Nesse contexto, o Comando Militar da Amazônia desencadeou, entre os dias 03 e 23 de setembro do corrente ano, a Operação Amazônia propriamente dita. A citada manobra desenvolveu-se em uma imensa área na Amazônia Ocidental, que abrangeu parte dos Estados do Amazonas e Rondônia, e empregou todas as Brigadas do Comando Militar da Amazônia, além de meios e pessoal de seis distintos Comandos Militares de Área do Exército Brasileiro.

 Ainda, durante a campanha, foi possível identificar quase todas as fases do processo Operativo da FTC descrito no Manual de Campanha EB70-MC-10.225- Força Terrestre Componente da seguinte maneira:

  O Processo de emprego do escalão designado como FTC está estruturado em seis fases necessárias ao planejamento, à estruturação, ao emprego e à reversão da FTC: Planejamento (Fase 0), Geração do Poder de Combate da FTC (Fase 1), Obtenção e Exploração da Iniciativa (Fase 2), Execução da Ação Decisiva (Fase 3), Normalização (Fase 4) e Reversão (Fase 5).

 Nesse contexto, observou-se o emprego de todas as funções de combate, em maior ou menor intensidade, de acordo com o desenrolar das operações, considerando função de combate como um conjunto relativamente homogêneo de atividades e tarefas afins, que atendem a uma finalidade comum, além dos sistemas empregados na sua execução (pessoas, organizações, informações e processos), que orientam o preparo e o emprego dos meios no cumprimento de suas missões (Brasil, 2016). Tais funções estão descritas no manual EB 70-10.223 - Operações como: Comando e Controle; Movimento e Manobra; Inteligência; Fogos; Proteção; e Logística.

 Dessa forma, com o desenrolar das ações durante a execução da Operação Amazônia, pôde ser conseguida a aquisição e a construção importantes conhecimentos sobre o emprego do Exército no que tange às operações no ambiente operacional amazônico.

 Entretanto, no que diz respeito à fase da Normalização, faz-se mister ressaltar que o Manual de Campanha Força Terrestre Componente registra as seguintes considerações:

  Independentemente de uma operação militar ser de guerra ou de não guerra, obtidas as condições que caracterizam o estado final desejado, são necessárias ações para restabelecer a situação de paz estável de forma duradoura. A fase 4 do Processo Operativo da FTC é aquela na qual ocorrem essas ações.

  A normalização deve gerar as condições necessárias para permitir a retirada dos meios militares do TO/A Op (ou o retorno dos meios previamente existentes nessa área para a situação de normalidade) de forma harmônica, garantindo a sustentabilidade da situação de paz estável, ou seja, a fase tem por objetivo realizar a transição do controle da situação para as autoridades civis, da maneira mais suave possível.

 

 Nesse quesito, então, cabe mencionar que, no decorrer da Operação Amazônia, por razões óbvias, não houve tempo estimado para a fase de Normalização, posto que o conjunto de medidas para voltar a área abrangida pelo Teatro de Operações à sua normalidade política, social, econômica, militar, dentre outras, e propiciar a retirada de meios militares de forma gradativa, migrando da situação de guerra para a situação de normalidade, exigiria um tempo maior para o exercício em tela, de modo que neste trabalho não será abordada a citada fase, ainda que atividades de Ação Cívico Social tenham sido realizadas em algumas comunidades.

 Esse trabalho pretende realizar uma análise do desenvolvimento do Processo Operativo da FTC durante a Operação Amazônia, de modo que, para tanto, serão abordadas as fases desse processo, assinalando os fatos que permitiram identificá-las durante o desenrolar do grande exercício em questão, com o devido destaque para o emprego das Funções de Combate em cada uma dessas etapas, concluindo sobre sua contribuição para o emprego do Exército Brasileiro na região Amazônica.


2. O Desenvolvimento do Processo Operativo da FTC durante a Operação Amazônia

2.1 O planejamento da Operação Amazônia

 De acordo com o manual EB 70 MC 10-211 – Processo de Planejamento das Operações Terrestres (PPCOT), o planejamento realizado para as diversas fases redunda em um conjunto de planos, dentre os quais o mais importante é o Plano de Operações, que se destina a regular as condições de execução das ações necessárias para atingir o Efeito Final Desejado (EFD). A partir desse plano são confeccionados todos os demais, tais como o Plano de Geração do Poder de Combate da FTC, o Plano de Normalização e o Plano de Reversão.

 Para a Operação Amazônia, os planejamentos iniciaram-se no final janeiro de 2020, após determinação do Comandante Militar da Amazônia ao Centro de Coordenação de Operações do Comando Militar da Amazônia (CCOp CMA), no sentido de planejar uma grande Operação Convencional de Defesa Externa, onde fossem empregadas todas as Brigadas do Comando Militar da Amazônia e adjudicados meios para aumentar o poder de combate da FTC. Além disso, houve a preocupação de completar as Brigadas, de forma que fossem empregadas todas as suas funções de combate.

 Em seguida, decorrente de tal determinação, foi confeccionada a Ordem de Instrução Nr 1. Este documento, de março de 2020, basicamente, registrava a finalidade da operação, os objetivos de adestramento a serem atingidos, as atividades gerais que deveriam ser desenvolvidas, os módulos que deveriam ser formados para completar as capacidades das Brigadas e as ordens gerais para os comandos executantes, a fim de permitir a concentração estratégica.

 O quadro a seguir, extraído da Ordem de Instrução Nr 1, permite a visualização da composição dos módulos da FTC, observando-se que a 2ª e a 16ª Brigada de Infantaria de Selva receberam, respectivamente, meios oriundos da 1ª e da 23ª Brigada de Infantaria de Selva. Além disso, planejou-se o emprego da Brigada de Infantaria Paraquedista, do 18º GAC e do COPESP. Merece registro especial o emprego de 1 (uma) Bateria ASTROS do 6º GMF.

Figura Nr 1: Composição dos Módulos da FTC

 

2.1.1 O Planejamento Operacional da Operação Amazônia

 Paralelo às ordens administrativas, iniciou-se a elaboração da documentação operacional. A Situação Geral, basicamente, versava sobre a escalada da crise, com acirramento das tensões entre Azul e Vermelho em torno da região denominada Delta Prometido. Por sua vez, a 2ª Situação Particular versava sobre os documentos de Defesa expedidos, tais quais, a Diretriz Presidencial de Emprego de Defesa (DPED) e a Diretriz Ministerial de Emprego de Defesa (DMED). Essa última previa a ativação e delimitação do TO NORTE, bem como, a nomeação do seu comandante.

Figura Nr 2: TO Norte

 

 De posse da DMED, o Estado Maior Conjunto das Forças Armadas utilizou o Plano de Emprego Conjunto das Forças Armadas (PECFA) que aborda a hipótese de emprego para uma eventual invasão vermelha, bem como o estabelecimento das respectivas Forças Componentes no Teatro de Operações.

 Por outro lado, a 3ª Situação Particular consistia no extrato do Plano de Campanha que, de maneira geral, estabelecia as medidas de defesa para o caso de uma invasão vermelha ao país Azul. Para isso, previa que, em uma 1ª fase, o país azul deveria estabelecer-se defensivamente em seu território, a fim de reduzir o poder de combate inimigo, e, em uma segunda fase, contra-atacar e reaver a área invadida, para, em seguida, conquistar uma faixa de segurança em território vermelho a fim de negociar em melhores condições.

 Por sua vez, a 4ª Situação Particular versava sobre o Anexo Alfa ao Plano de Campanha que, basicamente, apresentava todas as informações sobre o país Vermelho, de acordo com os campos do poder, a fim de subsidiar os planejamentos futuros.

 De posse das informações iniciais, o Estado Maior da FTC começou, então, o planejamento conceitual da Operação. Essa fase consistiu em uma análise do ambiente operacional, para que o Cmt FTC pudesse decidir com maior propriedade e emitir sua Diretriz Inicial de Planejamento (DIPLAN). Importantes ferramentas foram utilizadas para isso, como o Diagrama de relações das situações iniciais e desejadas.

Figura Nr 3: Diagrama de Relações do Estado Atual

 

Figura Nr 4: Diagrama de Relações da Situação Desejada

 

 Assim, foi possível mapear o problema existente na área do Teatro de Operações Norte, como sendo o seguinte:

  “As tropas da 15ª Bda Inf Sl Vermelha atualmente posicionadas nas Loc MANACAPURÚ (MPU), NOVO AIRÃO (NOA), MOURA (MOU) e CODAJÁS (CDJ) representam o maior óbice para a consecução da situação desejada na área de responsabilidade da FTC balizada pelas Rdv AM 070, AM 352, Rios NEGRO e SOLIMÕES.

  O braço armado da Força de Guerrilha Azulina baseada no MSLT estruturada por Mil Vm Rg Loc HUMAITÁ (HUM) e APUÍ (APU) também representam um óbice para a consecução da situação desejada na área de responsabilidade da FTC balizada pela Rdv BR 319 e Rio MADEIRA.

  Na dimensão humana, a Pop A Op representada pelos azulinos residentes em Vermelho, os vermelhinos residentes em Azul e os nacionais residentes em seus respectivos países deverão ser alvo de proteção à luz do DICA/DIH a fim de minorar a probabilidade de possíveis óbices relacionados a desnecessários sofrimentos que possam ser explorados pelas tropas da 15ª Bda Inf Sl Vm e pela atual liberdade de ação do braço armado da Força de Guerrilha Azulina estruturada por vermelhinos.

  Na dimensão informacional, a conquista e manutenção da superioridade informacional por meio das 06 CRI deverá ser alcançada a fim de mitigar o atual óbice representado pela liberdade de ação dos atores não estatais ONG, FAGNV e Mídia Cinza”.

 As informações supracitadas permitiram subsidiar o Cmt para a elaboração de uma abordagem operativa, de acordo com a figura a seguir:

Figura Nr 5: Abordagem Operativa da Op Amz

 

 A análise do ambiente operacional proporcionou ao Cmt da FTC as condições preponderantes para emitir sua Diretriz Inicial de Planejamento (DIPLAN), subsidiando o EM para, então, elaborar a sua ordem de Operações, conforme consta na Tabela Nr 1.

DIPLAN

1. Novo enunciado da missão

a. Com a finalidade de contribuir com o Com TO na condução de Op Mil em Ter Az e Vm para restabelecer a integridade territorial Azul, reduzir o poder militar Vm e Conq uma faixa de Segurança em Ter Vm para garantir vantagem nas negociações, a FTC deverá:

1) Defender, a partir de D-2 em território Azul, a sul das localidades de MPU e NOA visando reduzir o poder de combate do invasor.

2) Atacar, a partir de D+4 para conquistar as localidades de MPU e NOA para restabelecer a integridade do território nacional.

3) Atacar, Mdt O para Conquistar BAR e COA, em território Vermelho, a fim de conquistar uma faixa de segurança e criar condições favoráveis para as negociações do nível político.

4) Neutralizar Forças Irregulares presentes em Território Nacional.

 

2. Estado Final Desejado Militar

a. A integridade territorial AZUL restabelecida.

b. A porção do território VERMELHO balizado pela linha COARI (COA) – BARCELOS (BAR) conquistada.

c. O Ini rechaçado para dentro de seu Ter e com sua Cpcd de Rlz Op Bas
degradadas.

d. As Etta Estrt protegidas em AZUL.

e. Os refugiados e deslocados assistidos, o apoio da população preservado

f. Todos os preceitos que regem o DICA respeitados.

 

3. Cronograma de Trabalho

Até D: P Def ocupada pela 25ª Bda Inf Sl

D+5: Ultrapassagem da 25ª Bda Inf Sl

D+6: Reconquista de MPU

A partir de D+7: Início das ações ofensivas para Conq Fx Seg.

 

4. Orientação ao EM e Elm Subordinados

a. Mvt Man

▪ Priorizar os princípios da Flexibilidade e Surpresa.

▪ Formular pelo menos 2 linhas de ação.

▪ Priorizar a infiltração como forma de manobra.

b. Comando e Controle

• Utilizar meios de Com considerando o fator Seg em detrimento dos demais.

c. Inteligência

▪ Priorizar o esforço de busca para a Loc das instalações logísticas do Ini.

d. Proteção

▪ Priorizar a mobilidade da Vanguarda da FTC durante a M Cmb Flu.

e. Logística

▪ Posicionar a BLT e Dst Log dando maior relevância para o Fator Ap Cerrado.

f. Fogos

• Considerar Emp descentralizado das Pç Art, dadas as Crct fisiográficas do TO.

• Considerar a letalidade seletiva na utilização de fogos não cinéticos.

Tabela Nr 1: DIPLAN

 

 A DIPLAN foi então a base para a execução da Ordem de Operações da FTC que orientou todos os demais planejamentos, com prioridade para o Plano de Geração do Poder de Combate, o Plano Logístico da FTC e o Plano de Reversão. A seguir, um estrato do Parágrafo 3º da Ordem de Operações da FTC.

3. EXECUÇÃO

a. Conceito da Operação

1) Manobra

a) A FTC Conduzirá operações militares em território azul e vermelho, para isso:

(1) Em uma primeira fase, a partir de D-2, defenderá a Sul de MPU e NOA empregando a 25ª Bda Inf Sl; e

(2) Em uma segunda fase, a partir de D+5, atacará na DTA MAO – MPU – CDJ – COA para Conq COA (O6) e na DTA MAO – MPU – NOA – MOU – BAR para Conq BAR (O7) empregando:

(a) Até a Conq de O1 e O4

((1)) A 25ª Bda Inf Sl para, de suas atuais Pos, Ap Ultr da 16ª e da 2ª
Bda Inf Sl.

((2)) A FT 1º BIS Amv para Rlz Ass Amv Rg Ponte sobre a AM 070 (O2). Após Conq O2 ficará ECD de Rlz Jç e ser substituída pela 16ª Bda Inf Sl no Pt Jç Nr 1.

((3)) A FT Aet para Rlz Ass Aet para Conq Mnt Rg que por SE permite o Aces a NOA (O3). Após Conq de O3 ficará ECD Rlz Jç e ser substituída pela 2ª Bda Inf Sl no Pt Jç 02.

((4)) A 16ª Bda Inf Sl para Rlz M Cmb Mtz coberta, constituindo a vanguarda da FTC pelo E Prog JACURARÚ, até a L Ct MATINTA PIRERA. Em seguida, Ultr Elm 25ª Bda Inf Sl, prosseguirá Rlz M Cmb Mtz descoberta até o P Jç 01, para Rlz Jç e substituir a FT Amv, e daí prosseguirá para Conq MPU (O1). Na impossibilidade da Rlz do Ass Amv ficará ECD Conq O2.

((5)) A 2ª Bda Inf Sl para Rlz M Cmb Mtz coberta pelo E Prog JACURARÚ, constituindo o grosso da FTC até a L Ct MATINTA PIRERA. Em seguida, Ultr Elm 25ª Bda Inf Sl, prosseguirá Rlz uma M Cmb Mtz coberta até O2. Daí, após Ultr Elm da 16ª Bda Inf Sl, prosseguirá pelo E Prog EMBOÁ até o P Jç 02 para Rlz a Jç e subsituição da FT Aet, daí prosseguindo para a Conq O4.

((6)) Proteger-se-á face os flancos N e S com Elm do 4º B Av Ex.

(b) Após a Conq de O1 e O4

((1)) A 16ª Bda Inf Sl, Mdt O, para Rlz M Cmb Flu descoberta pelo E Prog PIRAÍBA para Conq sucessivamente CDJ (O5) e COA (O7).

((2)) A 2ª Bda Inf Sl, Mdt O, para Rlz M Cmb Flu descoberta pelo E Prog PIRARARA e Conq sucessivamente MOU (O6) e BAR (O8).

(c) Proteger-se-á face aos Flc N e S com a 16ª e 2ª Bda Inf Sl, respectivamente.

(d) Rlz Seg das Etta Estrt em sua ARP.

(e) Acolherá deslocados e refugiados que retraírem em sua ARP.

(3) Em uma terceira fase, Mnt Obj Conq até que seja restabelecida a situação de paz desejável dentro do Ter azul e da Rg Vm conquistada.

(4) Em uma quarta fase, ficará ECD reverter seus meios.

b) Emp a 17 Bda Inf Sl, Rlz Op C F Irreg na Reg HUM / LBR, com início em D+5.

c) ANEXO “B”: Eqm Man FTC AMAZÔNIA

d) ANEXO “C”: Plano de Junção

Tabela Nr 2: Parágrafo 3º da Ordem de Operações da FTC

 

 Em linhas gerais, a manobra da FTC consistiu em realizar uma Marcha para o Combate Terrestre pela AM 070 e AM 352 para reconquistar Manacapuru e Novo Airão, cidades Azulinas conquistadas por Vermelho e, em seguida, realizar uma Marcha para o Combate Fluvial pelos rios Negro e Solimões, para conquistar Moura e Codajás. Ainda, a Força Conjunta de Operações Especiais realizou ações de interdição de Alvos Estratégicos em território Vermelho e retomada de uma refinaria azulina nacionalizada por Vermelho. Ademais, a 17ª Brigada de Infantaria de Selva realizou Operações Contra Forças Irregulares em sua Área de Responsabilidade.

Figura Nr 6: Esquema de Manobra da FTC

 

 A Ordem de Operações da FTC foi preponderante para que um complexo plano de geração do poder de combate fosse elaborado. A 12ª Região Militar, que compôs o Comando Logístico da FTC (CLFTC) foi a responsável por operacionalizar o citado plano.

2.1.2 O Planejamento da Geração do Poder de Combate

 O manual EB 70 MC 10-211 – Processo de Planejamento das Operações Terrestres (PPCOT) registra as seguintes considerações sobre o Plano de Geração do Poder de Combate:

  O plano de geração do poder de combate da FTC tem por objetivo a organização dos elementos operativos para o cumprimento da missão e seu posicionamento para o início da Op, estabelecendo as condições de execução da fase 1 (Geração do Poder de Combate da FTC). Ele integra a atividade de deslocamento estratégico e concentração estratégica, com o plano de operações do escalão designado como FTC, determinando o posicionamento dos elementos operativos, conforme as ações táticas previstas.

 O desafio apresentado compreendia planejar o deslocamento tático de tropas do Comando de Artilharia do Exército (Formosa-GO), da 23ª Brigada de Infantaria de Selva (Marabá-PA), da 1ª Brigada de Infantaria de Selva (Boa Vista-RR), da 2ª Brigada de Infantaria de Selva (São Gabriel da Cachoeira-AM), da 16ª Brigada de Infantaria de Selva (Tefé-AM) e o deslocamento estratégico do COPESP (Goiânia-GO) e da Brigada Paraquedista (Rio de Janeiro-RJ), todos para Manaus, bem como, do 18º GAC (Rondonópolis-MT) e da 3ª Cia F Esp (Manaus-AM) para Porto Velho (RO).

 O logotipo da Operação Amazônia bem retrata a citada mobilização de meios e pessoal.

Figura Nr 7: Logotipo da Operação Amazônia

 

 Outro considerável desafio foi planejar a Concentração Estratégica para que as tropas realizassem atividades de forma a potencializar suas capacidades e estarem aptas a serem empregadas na Operação com a maior eficiência e brevidade possível.

 Cabe ressaltar que o planejamento para a geração do poder de combate já se iniciou desde a 1ª fase, funcionando paralelamente aos planejamentos operacionais, necessitando de adequações face às situações que evoluíam constantemente.

 Para a Operação Amazônia, um fator de êxito importante foi planejar a sincronização das ações no tempo e no espaço para que o trabalho pudesse ser completado e devidamente acompanhado e controlado. Para isso, foi confeccionada uma linha do tempo conforme figura a seguir.

Figura Nr 8: Linha do Tempo

 

 Diante do supracitado, a célula de coordenação do deslocamento presente no CLFTC elaborou um meticuloso plano, de modo a apontar os locais e as condições nas quais os meios terrestres e fluviais deveriam chegar no Teatro de Operações.

 A função de combate Logística, a seu turno, integra o conjunto de atividades, as tarefas e os sistemas inter-relacionados para prover apoio e serviços, de modo a assegurar a liberdade de ação e proporcionar amplitude de alcance e de duração às operações. Engloba as Áreas Funcionais de apoio de material, apoio ao pessoal e apoio de saúde (Brasil 2016).

 Nesse ínterim, cabe ressaltar que a supracitada função de combate foi importante, pois permitiu mapear as necessidades para o caso de uma Concentração Estratégica em Manaus. Um dos anexos do Plano de Concentração Estratégica elaborado pelo CLFTC foi o quadro de necessidades financeiras para a Operação, que foi concebido a partir das demandas enviadas pelas GU por meio dos seus Planos de Trabalhos Logísticos para a operação.

 Para isso, o Cmt da FTC realizou um trabalho para assegurar-se de que a geração do poder de combate estava recebendo a atenção e os recursos necessários e também fiscalizou o emprego de recursos, ligando-se com os ODS e ODG para viabilizar o deslocamento estratégico e a Concentração Estratégica.

 Outro planejamento importante foi o movimento aéreo. Tendo em vista a situação de disponibilidade de aeronaves para a realização das missões, nem todas as solicitações de deslocamento aéreo foram executadas, havendo a necessidade de planejar também, deslocamentos com por meio de outros tipos de modais.

Figura Nr 9: Previsão do movimento aéreo da Op Amz

 

 Infere-se de forma parcial que a fase de planejamento consistiu na leitura correta do ambiente operacional e, também, no levantamento das necessidades para permitir a concentração estratégica das tropas do TO Norte, permitindo auferir contribuições para o eventual emprego do Exército Brasileiro na Amazônia, tais como o aprofundamento do conhecimento em operações convencionais em área de selva, a ratificação e prática da doutrina e o trabalho e o adestramento de EM de Grandes Escalões.

2.2 A Geração do Poder de Combate da Operação Amazônia

 Essa é a fase do processo operativo na qual o trabalho concentra-se na organização e na distribuição dos meios da FTC em zonas de reunião (Z Reu) e bases de operações no TO, posicionando-os para as ações táticas que serão executadas (Brasil 2019). No caso da Operação Amazônia, os meios foram reunidos em Manaus para as ações Convencionais e em Porto Velho, para as Operações Contra Forças Irregulares.

2.2.1 Os Deslocamentos Táticos e Estratégicos

 A fim de viabilizar o deslocamento estratégico, foi necessário apoio de outras Forças, bem como, mobilizar ou contratar meios civis como ônibus e embarcações que contribuíram para essa missão. Com isso, o fluxo de tropas visou a possibilitar o início das operações terrestres no mais curto prazo, de acordo com o planejamento do C Op, de forma que as forças transportadas foram reunidas em escalões (ou levas), organizadas de modo que se pode dispor da maior gama possível de capacidades operativas, no mais curto prazo.

 A 1ª Bda Inf Sl iniciou seu deslocamento tático em 11 de agosto de 2020, transportando seus Blindados e meios Logísticos, em levas alternadas para Manaus. O deslocamento de pessoal da mencionada GU começou em 31 de agosto, terminando essa fase no dia 1º de setembro. Dessa forma, a Brigada Lobo D´Almada estava concentrada em Manaus no fim da jornada do dia 1º de setembro.

Figura Nr 10: Embarque de Blindados da 1ª Bda Inf Sl

 

 No que tange à 2ª Bda Inf Sl, essa GU iniciou seu deslocamento tático em 7 de agosto, com apoio do Centro de Embarcações do Comando Militar da Amazônia (CECMA) para transporte do material. No entanto, seu efetivo embarcou no dia 23 de agosto, de forma que todos os meios e pessoal da Brigada Ararigbóia estavam em Manaus no dia 1 de setembro de 2020.

 Por sua vez, a 16ª Bda Inf Sl iniciou seu deslocamento tático no dia 20 de agosto, transportando seus meios de Tabatinga, chegando a Tefé no dia 26 de agosto e concluindo seu movimento logístico no dia 1º de setembro, com a chegada a Manaus. O transporte por meio fluvial do pessoal iniciou-se no dia 29 de agosto, aportando em Manaus no dia 31 do mesmo mês.

 Quanto à 23ª Bda Inf Sl, seu deslocamento foi iniciado na data de 27 de julho, com as tropas e material deslocando-se de Marabá-PA e de Imperatriz-MA para Belém. A partir da concentração em Belém, a balsa da COMARA transportou tais meios para Manaus, partindo em 17 de agosto e terminando o transporte logístico em 03 de setembro. A seu turno, o pessoal deslocou-se em embarcação mobilizada de Belém para Manaus, a partir do dia 28 de agosto, concluindo seu deslocamento em 1º de setembro.

 O Grupo de Mísseis e foguetes iniciou o deslocamento da sua plataforma ASTROS em 8 de agosto, quando partiu de Formosa em direção a Belém, chegando ao destino no dia 12 de agosto. A partir dessa data, os meios e pessoal ficaram em condições de embarcarem juntos com a 23ª Bda Inf Sl em direção a Manaus.

 O deslocamento da 3ª Cia F Esp foi iniciado, pela BR 319 (Manaus-Porto Velho), no dia 23 de agosto, conduzindo, a partir da chegada à capital de Rondônia, suas atividades de adestramento das tropas da 17ª Bda Inf Sl, em operações contra forças irregulares.

 O 18º GAC iniciou seu deslocamento rodoviário de Rondonópolis-MT até Porto Velho em 21 de agosto, chegando àquela guarnição no dia 25 de agosto, quando iniciou um estágio de adaptação e vida na selva para aclimatar-se à área de operações.

 Transportado pela FAB, em 23 de setembro, o COPESP, a partir do dia 24 do mesmo mês, iniciou, em Manaus, seu adestramento para a operação.

 Em duas levas, nos dias 3 e 5 de setembro, a Bda Inf Pqdt, sediada no Rio de Janeiro-RJ, concentrou-se na capital amazonense, de modo que, em 6 de setembro, a FT Velame estava pronta e em condições de iniciar seu adestramento.

 As atividades realizadas durante o deslocamento estratégico pelo modal fluvial denotaram, mais uma vez, a importância da logística. Especial atenção foi dada ao grupo funcional transporte, que permitiu verificar dados médios de planejamento que não constam nas documentações em vigor no Exército, visto que consideram apenas marchas motorizadas terrestres. O emprego de embarcações em marchas administrativas fluviais foi importante vetor para planejamentos de operações futuras em ambiente amazônico.

 Além disso, a velocidade de marcha nos rios Negro e Solimões foi importante fator para planejamento da concentração estratégica da Operação Amazônia. Nesse escopo, é importante que as Brigadas de Infantaria de Selva possuam embarcações de grande porte, capazes de transportar seu efetivo em números menores de levas para permitir uma resposta rápida em caso de necessidade, ampliando sua capacidade operativa.

 Ademais, outra contribuição preciosa foi mapear as capacidades dos meios civis disponíveis na Amazônia Ocidental que poderão ser utilizados em caso de mobilização. A Operação Amazônia permitiu montar um banco de dados onde constam as principais empresas capazes de transportar tropas através dos diversos modais, com prioridade para o fluvial.

2.2.2 A Concentração Estratégica

 Todo esse esforço gerou uma concentração estratégica bem sucedida. A primeira providência foi a realização de testes de COVID em todo efetivo que ficou reunido nas Organizações Militares hospedeiras em Manaus, de acordo com um Plano, elaborado pelo CLFTC (12 RM), onde previu-se, inclusive, transferência de QR e QS para as OM hospedeiras.

Tabela 4: efetivo nas OM hospedeiras

 

 Ainda, antes de iniciar as ações decisivas, a tropa concentrada realizou uma série de atividades voltadas para o seu adestramento e emprego, no intuito de compor os módulos, realizar treinamentos específicos e promover uma relevante demonstração de força antes de iniciar suas ações ofensivas.

Tabela Nr 5: Estrato das atividades realizadas na 1ª semana da CE

 

 As GU realizaram, inicialmente, uma formatura interna para reunir seu pessoal, especialmente, os módulos oriundos de outras organizações militares, a fim de compor a Força de Combate que foi empregada nas missões a elas atribuídas. Além disso, foram ministradas instruções e realizados adestramentos para nivelar conhecimento do efetivo presente, onde abordou-se assuntos como marchas para o combate motorizada e fluvial, TAI ofensiva e defensiva, técnicas de infiltração, tiro, Treinamento Físico Militar, ensaios para as marchas terrestre e fluvial, dentre outros.

 Outra atividade importante, na vertente da função de combate logística, foi a distribuição de suprimentos e a manutenção de embarcações, motores de popa e viaturas, que propiciou um alto índice de disponibilidade para as Brigadas da FTC Amazônia.

 As tropas oriundas de outras partes do território nacional realizaram atividades para a aclimatação do seu efetivo militar. A Brigada Paraquedista participou de um estágio de Adaptação e Vida na Selva, salto em Massa d´água, técnicas especiais e orientação através selva. Já o COPESP adestrou-se em técnicas de tiro e salto livre, preparando-se para suas ações táticas.

 Atividade importante também foi a formatura de apronto operacional realizada pelo Com TO, onde ocorreram, também, ensaios das Marchas para o Combate Motorizada e Fluvial. Essas atividades permitiram a consolidação da geração do poder de combate em condições ideais para a obtenção da iniciativa pela FTC, causando, inclusive, um efeito dissuasório no contexto de seu entorno estratégico.

Figura Nr 11: Formatura de Apronto Operacional da Op Amz

 

 Conclui-se, parcialmente, que a fase em questão consistiu na adoção de uma série de medidas que propiciaram às Tropas do TO a reunião de capacidades para gerar um elevado poder de combate, com a sinergia de suas funções de combate, atingindo contribuições importantes para o emprego do Exército Brasileiro na região amazônica, tais quais o mapeamento das capacidades logísticas para uma mobilização de meios e pessoal em grande escala, as atividades mais adequadas para permitir que a geração do poder de combate seja concluída mais rapidamente possível, as atividades a serem desenvolvidas para a aclimatação das tropas e os efeitos dissuasórios que a mobilização de meios do Exército Brasileiro na Amazônia Ocidental causa no âmbito do correspondente entorno estratégico.

2.3 A Obtenção e manutenção da Iniciativa da Operação Amazônia

 O Manual de Campanha Processo de Planejamento das Operações Terrestre (PPCOT) lembra que essa fase destina-se à criação de condições para a realização da ação decisiva, pois o simples desdobramento dos meios não garante a iniciativa em favor das tropas do TO. Obtida a iniciativa, sua manutenção é imprescindível para que sejam atingidos os objetivos.

 Ainda, a mesma fonte registra que a obtenção e manutenção da iniciativa é importante que haja:

a) adequada consciência situacional e planejamento meticuloso;

b) disposição do Cmt do escalão designado como FTC para assumir riscos, identificando e explorando as oportunidades, quando surgirem; e

c) emprego sinérgico das funções de combate, com a integração das capacidades necessárias na composição de meios da FTC.

 Dessa maneira, a FTC Amazônia logrou obter a iniciativa ao deslocar a 25ª Bda Inf Sl (hipotética) defensivamente a Sul de Manacapuru e Novo Airão, a fim de reduzir o ímpeto do inimigo e criar condições favoráveis para a adoção de uma atitude ofensiva, conforme relata o documento Nr7, 2ª Situação Particular.

1. A 25ª Bda Inf Sl Az, após ter iniciado o movimento para W, em D-1, avança pelo eixo balizado pelos Rios Negro e Solimões, com a finalidade de estabelecer-se, defensivamente, nas localidades de Manacapuru e Novo Airão.

2. O 251º BIS/25ª Bda Inf Sl Az está realizando uma Aç Rtrd e, em D-1/1200, encontra-se em contato com a 15ª Bda Inf Sl Vm, de acordo com o dispositivo constante no calco de situação do inimigo.

3. Em D+1/0800, o 251º BIS é acolhido e a 15ª Bda Inf Sl Vm inicia seu ataque às posições defensivas localizadas em MANACAPURU e NOVO AIRÃO.

5. Em D+2/0800, a 25ª Bda Inf Sl Az informa ao Cmt da FTC que não conseguirá rechaçar o ataque inimigo e retrai para a Última Linha de Defesa (ULD), balizada pela L Ct Matinta Pirera.

6. Em D+4/0800 o Cmt da FTC, confirmando ordem emitida por meio do Plano de Campanha, inicia a 2ª fase do planejamento e decide passar à ofensiva, conforme prevê a ordem de operações da FTC, cujo estrato é o seguinte:

 

 Ainda que a situação criada fosse hipotética, pois não houve o posicionamento real de uma Brigada de Infantaria de Selva no terreno, as posições defensivas na última linha de defesa (ULD) foram, de fato, ocupadas, possibilitando que a tropa pudesse se adestrar, principalmente no que tange à operação de ultrapassagem.

 Além disso, conforme registra o Manual de Campanha Lista de Tarefas funcionais, a função de combate Inteligência compreende o conjunto de atividades, tarefas e sistemas inter-relacionados empregados para assegurar
compreensão sobre o ambiente operacional, as ameaças (atuais e potenciais), os oponentes, o terreno e as considerações civis.

 Com base na assertiva acima, mereceu destaque, nessa fase, a função de combate Inteligência. Foi possível constatar essa observação durante a análise do terreno, pois a última Linha de Defesa (ULD) balizada pela Linha de Controle Matinta Pirera (Rio Ariaú), caracterizou-se por uma excelente posição defensiva que exigiria que o inimigo realizasse uma operação de transposição de curso d´água, fornecendo o tempo necessário para que a FTC iniciasse seu contra-ataque.

Figura 12: LCt Matinta Pirera (ULD)

 

 Ademais, a função de combate Proteção reúne o conjunto de atividades empregadas na preservação da força, permitindo que os comandantes disponham do máximo poder de combate para emprego. As tarefas permitem identificar, prevenir e mitigar ameaças às forças e aos meios vitais para as operações, de modo a preservar o poder de combate e a liberdade de ação. Permitem, também, preservar populações e infraestruturas críticas (Brasil 2016).

 Dessa forma, durante essa fase da operação Amazônia, avultou-se de importância, também, a função de combate Proteção. Isso foi possível devido à utilização da Engenharia para construção das posições defensivas, bem como, o agravamento dos obstáculos posicionados no corte do rio Ariaú, propiciando as condições ideais para o retardamento do inimigo e contra-ataque da FTC.

 Uma vez conquistada, a iniciativa é protegida pela antecipação na identificação das ameaças e pelo emprego de ações dissuasórias. Concomitantemente, deve-se aumentar o ritmo operativo objetivando a sua exploração por intermédio de ações eminentemente ofensivas.

 Já nas guarnições de Porto Velho e Humaitá, a obtenção da iniciativa deu-se com o cerco inicial às Forças Irregulares, no dia 8 de setembro. Essa ação permitiu o isolamento da guerrilha para início das Operações Contra Forças Irregulares em melhores condições.

 Infere-se, de forma parcial, que a fase da obtenção e manutenção da iniciativa caracterizou-se pela busca de estabelecimento das condições ideais para que a FTC iniciasse sua ofensiva. Para isso, especial atenção deu-se ao emprego adequado das funções de combate inteligência e Proteção com a ocupação de regiões capitais de defesa agravadas pelo emprego da engenharia.

2.4 A ação Decisiva da Operação Amazônia

 A fase 3 do processo operativo da FTC, a Execução da Ação Decisiva, compreende o somatório de atividades e tarefas de todas as funções de combate, executadas de modo sincronizado no tempo e no espaço para o cumprimento da missão. Em última instância, esse esforço concentrado é o que conduz às condições expressas no Estado Final Desejado para a operação. Em geral, essa fase tem caráter ofensivo, destinando-se à destruição do inimigo ou à conquista de terreno, por exemplo (Brasil 2019).

2.4.1 A 1ª Fase das Ações Decisivas da Operação Amazônia

 A 1ª fase das ações decisivas da operação Amazônia consistiu nas ações ofensivas para retomada de Manacapuru e Novo Airão, cidades azulinas conquistadas pelo país Vermelho.

 Nesse ínterim, durante essa fase, a função de combate Movimento e Manobra assumiu relevante papel. Essa função é definida como o conjunto de atividades, tarefas e sistemas inter-relacionados, empregados para deslocar forças, de modo a posicioná-las em situação de vantagem em relação às ameaças (Brasil 2016).

 A adoção dos assaltos aeromóvel e aeroterrestre para acelerar a manobra e assegurar à FTC condições favoráveis e seguras para a Marcha para o Combate atestaram essa assertiva. O assalto aeromóvel teve como objetivo uma ponte localizada sobre Rio Meriti, na AM 010, e visava garantir a passagem da FTC para possibilitar a conquista de Manacapuru; enquanto que o assalto aeroterrestre visava conquistar uma posição localizada a NE de Manacapuru, na AM 352 , para bloquear o reforço inimigo às posições em Manacapuru, a partir de Novo Airão.

 Merece registro que, doutrinariamente, convinha lançar a Brigada Paraquedista na retaguarda profunda do dispositivo defensivo inimigo, provavelmente, na localidade de Moura. Contudo, a análise dos aspectos fisiográficos fez com que o Cmt da FTC revisse tal intenção, haja vista que o modal de deslocamento era o fluvial, redundando em um tempo muito grande para a realização da junção e poderia fugir da capacidade logística da Brigada Paraquedista em se manter na posição pelo tempo previsto.

 A supracitada situação gerou incerteza sobre a execução da junção. Com isso, o Cmt da FTC decidiu lançar a Brigada Paraquedista na AM 352 para bloquear o reforço inimigo. Tal fato denotou que o assalto aeroterrestre sofre grande influência do ambiente operacional, especialmente, na Amazônia que os deslocamentos, geralmente, são fluviais e de longa duração, além da dificuldade de se encontrar zonas de lançamentos adequadas e seguras.

Figura Nr 13: Esq Man Assalto Aeromóvel

 

Figura Nr 14: Assalto Aeromóvel

 

Figura Nr 15: Esq Man Assalto Aeroterrestre

 

Figura Nr 16: Assalto Aeroterrrestre

 

 Vale destacar a composição modular das duas Forças Tarefas, possuindo elementos de engenharia e artilharia antiaérea. Essa composição permitiu agregar importantes capacidades para possibilitar ações em prol da função de combate movimento e manobra, possibilitando o emprego de meios adequados à missão imposta.

Figura Nr 17: Estrato da Composição dos meios da FTC

 

 Ainda, a função de combate Inteligência tem como, uma de suas atividades, executar ações de inteligência, reconhecimento, vigilância e aquisição de alvos (IRVA). Para tanto, pode realizar a tarefa de integrar os dados obtidos pelas atividades de IRVA, que compreende a coordenação das ações para integração dos dados obtidos pelas ações de reconhecimento e vigilância dos demais sensores (Brasil 2016).

 Desta feita, assumiu importância fundamental a utilização de meios IRVA pela FT Aet para conquistar e manter o objetivo imposto a ela pela FTC.
Por meio dessa capacidade, a FT Aet levantou informações sobre o inimigo, a fim de aumentar sua consciência situacional e planejar, de forma eficiente, o ataque à posição adversária, o que deixou evidente a utilização da função de combate Inteligência em prol da manobra da FTC.

 Importante apontar a utilização de elementos de Forças Especiais em prol da Função de Combate Movimento e Manobra. Essa assertiva foi constatada com o estabelecimento da AOGI Negro no país Azul, que possibilitou em melhores condições de segurança a execução de um Comitê de Recepção para a Equipe de Precursores Paraquedistas da Brigada Paraquedista, a fim de apoiar o Assalto Aeroterrestre, possibilitando o desembocar do ataque e proporcionando uma situação vantajosa para a FTC.

 A seu turno, a Marcha para o Combate Motorizada da FTC iniciou-se em 14 de setembro às 04:00 horas com a 16ª Bda Inf Sl, e no dia 15, no mesmo horário, com a 2ª Bda Inf Sl. Ao atingir a L Ct Matinta Pirera, por parte daquela GU, foi realizada a ultrapassagem da 25ª Bda Inf Sl, executando as medidas previstas no Plano de Ultrapassagem da FTC, chamando a atenção para a função de combate Comando e Controle, definida como o conjunto de atividades mediante as quais se planeja, dirige, coordena e controla o emprego das forças e os meios em operações militares. Constitui o elo que une os escalões superior e subordinado (Brasil 2016).

 Nesse ínterim, sobressaiu-se o emprego da função de combate Comando e Controle. O Plano de Ultrapassagem possuía uma série de medidas que, tanto a Força estacionária quanto a Força de junção deveriam realizar. Foram empregadas Linhas de Controle e frequências específicas para essa ação, propiciando rapidez e segurança para o deslocamento da FTC.

 A partir da Ultrapassagem da 25ª Bda Inf Sl, a FTC começou a enfrentar a resistência Inimiga, sendo necessário empregar a maioria das suas funções de combate, inclusive a Proteção, definida como o conjunto de atividades empregadas na preservação da força, permitindo que os comandantes disponham do máximo poder de combate para emprego. As tarefas permitem identificar, prevenir e mitigar ameaças às forças e aos meios vitais para as operações, de modo a preservar o poder de combate e a liberdade de ação. Permitem, também, preservar populações e infraestruturas críticas. (Brasil 2016).

 Nesse ínterim, avultou-se de importância a constante utilização da Engenharia para prover a mobilidade durante os deslocamentos, cooperando com a função movimento e manobra, pois havia obstáculos lançados no itinerário, tais quais, campos de minas e crateras, o que facilitou o movimento e manobra da FTC.

 Outrossim, o emprego das seções de Artilharia Antiaérea também esteve sempre alinhado com a função de combate Proteção. A entrada em posição das seções ocorreu durante todo o deslocamento, propiciando proteção contra os ataques aéreos inimigos.

Figura 18 – U Tir em posição sobre a Vtr Marruá

 

 Já a função de combate Fogos reúne as atividades, tarefas e sistemas inter-relacionados que permitem o emprego coletivo e coordenado de fogos cinéticos e não cinéticos, orgânicos da Força ou conjuntos, integrados pelos processos de planejamento e coordenação de fogos (Brasil 2016).

 A citada função foi amplamente utilizada na Operação Amazônia. Os 1º e 10º GAC Sl foram largamente empregados para neutralizar posições inimigas que se contrapunham à FTC. Além disso, o Cmt FTC visualizou a possibilidade de empregar a 1ª/6º GMF para destruir alvo estratégico descoberto pelos sensores de inteligência da FTC (Base Logística de Brigada Inimiga). Essa ação trouxe repercussões importantes, aumentando a capacidade dissuasória da FTC.

Figura Nr 19 – Emprego do ASTROS

 

 Ainda, alinhado com a função de combate fogos, a FAC realizou o apoio aéreo aproximado durante a Marcha para o Combate Motorizada. Esse apoio deu-se pelo ataque às posições inimigas de nível Batalhão ao longo dos E PROG EMBOÁ (AM 010) e JACURARÚ (AM 352). Durante a execução dessas ações foi verificada a necessidade de meios de comando e controle que permitam a comunicação entre aeronaves e forças em solo, proporcionando maior eficiência nos bombardeios em alvos terrestres.

 Nas atividades de conquista de objetivos durante a 1ª fase, foi dada importância para a função de combate Inteligência. Na busca da potencialização da consciência situacional, a FTC utilizou-se largamente de “drones” que sobrevoavam as posições inimigas, incrementando a segurança e o emprego eficiente e adequado dos meios para a conquista das posições, cooperando com o êxito durante os ataques da FTC.

 A FTC também empreendeu ações importantes para conquista das localidades de Manacapuru e Novo Airão, no contexto da função de combate Movimento e Manobra.

Figura Nr 20: Progressão de Esquadra em Ambiente Urbano

 

 Com as cidades de Manacapuru e Novo Airão conquistadas, a FTC iniciou o seu deslocamento fluvial para enfrentar um inimigo que se desdobrava, dessa vez, nos eixos fluviais, ocupando pontos fortes localizados em regiões capitais de defesa, com alto valor defensivo, executando patrulhas fluviais e dispondo-se defensivamente nas localidades ribeirinhas ao longo dos itinerários.

2.4.2 A 2ª Fase das Ações Decisivas da Operação Amazônia

 Essa fase iniciou-se a partir da retomada de Manacapuru e Novo Airão, com início de deslocamento fluvial, até a conquista de Codajás e Moura por meio de uma infiltração através selva com bloqueio fluvial.

Figura Nr 21: Início da Marcha para o Combate Fluvial

 

 As operações ribeirinhas em conjunto com a Marinha do Brasil e com a Força Aérea Brasileira foram o mote da operação nessa fase. O Manual MD 33 – M – 15 Operações Ribeirinhas define esse tipo de operação como:

a) São operações militares realizadas por uma Força organizada atendendo ao cumprimento da missão, levando-se também em consideração seu efetivo, composição das forças e o apoio logístico necessário. O propósito da organização nas Op Rib. é a formação de uma Força para atuar em terra, nos rios e no ar, inteiramente integrada e ajustada especificamente para prover a mobilidade necessária, unidade de comando, grau adequado de controle do ar e superioridade de fogos, a fim de obter o controle de parte ou de toda uma A Rib ou a sua negação ao inimigo;

b) As Op Rib são aquelas levadas a efeito em águas interiores e em áreas terrestres a elas adjacentes por forças militares que empregam meios navais, terrestres e aéreos; e

c) As Op Rib serão desencadeadas por Forças Singulares ou Conjuntas.

 

 A Marinha do Brasil realizou missões de escolta e acompanhamento, bem como, de conquista de portos, enquanto que a Força Aérea realizou as missões de Apoio Aéreo Aproximado com bombardeio de alvos em solo. Nessas condições, foi verificada que a eficácia das ações típicas de Marinha, em prol do componente terrestre tornaram-se um fator de êxito. Há que se destacar a importância da sincronização das tarefas para que as ações fluviais não comprometessem as ações terrestres ou vice-versa.

 O Manual de Operações Ribeirinhas ainda atribui as seguintes características ao assalto ribeirinho:

4.5.3.6 Assalto Ribeirinho (Ass Rib) Caracteriza-se pela projeção de forças nas margens dos rios, visando à conquista e manutenção de objetivos em terra. O Ass Rib propriamente dito começa com a chegada das Forças na Área de Desembarque Ribeirinho (A Dbq Rib) e termina com a conquista/ocupação dos objetivos em terra ou com o cumprimento das tarefas previstas. O Ass Rib é dividido nas seguintes etapas: a) Carregamento Tático: transbordo da tropa dos navios/embarcações de transporte para as embarcações de assalto ribeirinho;

b) Travessia: deslocamento das embarcações de assalto ribeirinho até a A Dbq Rib; e

c) Assalto: desembarque de forças para conquista de objetivos terrestres nelas existentes.

 A mesma fonte ainda estabelece que, para uma operação ribeirinha, poderá haver uma ação terrestre com bloqueio fluvial ou bloqueio fluvial com ação terrestre. Quando da execução da Operação Amazônia, ao se empregar a infiltração através selva como forma de manobra para conquista de objetivos ribeirinhos, aliado a bloqueios fluviais, verificou-se uma eficácia maior na tomada dos respectivos objetivos, dada as peculiaridades dessa forma de manobra.

 Ainda sobre este assunto, a missão de bloqueio fluvial, no eixo do Rio Solimões, durante a Operação Amazônia foi adequadamente cumprida pela Marinha do Brasil, dadas as dimensões do citado rio. Ficou evidente que, a presença de meios mais adequados presentes na Marinha do Brasil, aliado à análise dos aspectos fisiográficos, levaram à conclusão de que operações ribeirinhas no ambiente amazônico são melhores cumpridas em Conjunto com as outras Forças.

 Destarte, durante as ações realizadas nos eixos fluviais, foram evidenciadas características peculiares atinentes à função Movimento e Manobra. Uma delas foi o emprego da cavalaria na Marcha para o Combate Fluvial. Dotar a Cavalaria de Selva com meios fluviais rápidos e com poder de combate capaz de se contrapor às ameaças impostas pelo inimigo são ações preponderantes. Para isso, há a necessidade de readequação dos Programas Padrão de Adestramento e do Quadro de Dotação de Material (QDM) das organizações militares de Cavalaria presentes na Amazônia, dadas as características fisiográficas da região amazônica, onde o modal hidroviário é o mais utilizado.

 Ainda, sobre o mote da função Movimento e Manobra, reafirma-se que a infiltração é a forma mais adequada para conquistar objetivos ribeirinhos, posto que a conquista de Codajás e Moura foi precedida por uma infiltração através selva, que permitiu a obtenção de surpresa na ação final das Brigadas.

Figura Nr 22: Início da Infiltração através selva

 

 A função de combate Fogos também foi muito empregada nessa fase da Operação. A Artilharia, para prestar o apoio de fogo eficiente aos elementos de manobra, atuou enquadrada no escalão de combate, devido às grandes distâncias entre os escalões e a reduzida velocidade do meio fluvial, que poderia retardar sua entrada em posição, caso se deslocasse à retaguarda.

Figura Nr 23: Entrada em posição de Peça de Artilharia

 

 Ainda sobre o escopo do apoio de fogo, foi verificada a necessidade de adestrar a Artilharia para a entrada em posição em balsas, durante o deslocamento fluvial. Essa necessidade pode ocorrer caso não se encontrem praias, particularmente quando os eixos fluviais estiverem alagados, em época de cheia.

 Outra aplicação eficiente, quando se observa a função de combate Fogos, foi o emprego da F Cj Op Esp em diversas Ações Diretas realizadas pelas F Op Esp contra alvos estratégicos, possibilitando a consecução de vantagens significativas para o TO, como observado quando da realização do assalto aeromóvel com F Op Esp, na Refinaria de Urucu.
Na mesma vertente, a utilização de F Op Esp como Guias Aéreos Avançados (GAA) para conduzir bombardeios a partir de aeronaves, caracterizando execução de fogos cinéticos, também evidenciou o emprego de F Op Esp em favor da Função de Combate Fogos, como o verificado na região de Coari, no aeródromo e na alça do Rio Solimões, defronte ao Terminal Aquaviário daquela localidade.

Figura Nr 24: Ações de Operações Especiais no TO

 

 Vale apontar também, que o manual de ensino Batalhão Logístico define o termo “logística na medida certa” como a capacidade de configurar o apoio logístico de acordo com cada situação.

 Assim, foram auferidos relevantes ensinamentos no que tange à Logística. O usual emprego de destacamentos logísticos que acompanhavam o Escalão de Combate, para suprimento imediato das frações que avançavam à frente, evitou perda de tempo durante os deslocamentos fluviais. Além disso, no que tange ao grupo funcional “Saúde”, urge que os B Log Sl sejam dotados de destacamentos de saúde orgânicos que propiciem o apoio cerrado e a evacuação imediata em caso de necessidade.

 Importantes ensinamentos foram adquiridos também em relação à função Proteção. Foi verificado que a Engenharia, na Selva, deve ser dotada de meios para propiciar a mobilidade, caso o inimigo lance obstáculos fluviais (minas, etc).

 Por sua vez, ainda função Proteção, as Seções de Artilharia Antiaérea foram descentralizadas, a fim de prover a proteção adequada para as estruturas importantes e para GU.

 Destarte, os elementos de Forças Especiais também atuaram em favor da função de combate Inteligência, posto que foram realizados reconhecimentos especiais com o objetivo de buscar, coletar e explorar, de imediato, informações sobre a movimentação do inimigo em sua retaguarda profunda, além da obtenção de dados para responderem ao Repertório de Conhecimento Necessário recebidos do escalão superior e de outras agências.

 Na vertente das Operações Contra Forças Irregulares, a função de Combate Inteligência teve especial participação. Foram utilizadas aeronaves equipadas com visão termal no intuito de localizarem as Bases de Combate da Guerrilha, o que propiciou uma vantagem para a FTC na condução das operações para neutralizar a ameaça.

 Infere-se, de forma parcial, que a fase da Ação Decisiva na Operação Amazônia consistiu nas ações ofensivas que buscaram destruir e neutralizar as ações inimigas dentro do TO, empregando de maneira intensiva, as funções de combate, o que contribuiu para otimizar o emprego do Exército Brasileiro na Região Amazônica, à medida em que possibilitou o adestramento das tropas do CMA em operações ofensivas, permitiu constatar a eficiência das técnicas de infiltração em ambiente amazônico, conseguiu-se a sinergia entre as várias funções de combate e propiciou o emprego conjunto das Forças Singulares e das demais Forças que constituem o TO, tal qual a F Cj Op Esp.

2.5 A Reversão da operação Amazônia

 A Reversão é a fase do processo operativo da FTC em que os meios terrestres adjudicados ao TO retornam à situação que se encontravam antes do emprego. As ações de Reversão inserem-se em um processo mais amplo, gerenciado pelo EMCFA, que pode ser comparado ao deslocamento estratégico – com a diferença de que o sentido de movimento das Forças empregadas, nesse caso, é de retorno (Brasil 2017).

 O Plano de Reversão da FTC Amazônia destinou-se a estabelecer os procedimentos adotados pelos elementos de emprego, detalhando a execução do movimento e reunião dos meios e frações que estavam a ela adjudicados. O documento continha prescrições particulares para cada elemento operativo a ser transportado para fora do TO/A Op ou para outras partes do TO, acompanhando o previsto no Plano de Reversão Estratégica.

 Nesse sentido, o Plano de Reversão da Op Amz previu as medidas necessárias para o retorno das tropas e meios da 1ª, 2ª, 16ª, 17ª e 23ª Bda Inf Sl; da Bda Pqdt, do Comando de Art Ex, do 18º GAC e do COPESP, tudo ocorrendo conforme estipulado.

 Nessa fase, a logística voltou a ganhar importância. Para efetivar a reversão, foram mobilizadas, por intermédio do CLFTC, embarcações, veículos e aeronaves, que possibilitaram a consecução do Plano atinente à referida fase, conforme o quadro abaixo.

 

 Pode-se constatar, pelo quadro, que alguns elementos de emprego, constituídos durante a geração do poder de combate da FTC Amz, já foram dissolvidos, o que ocorreu, para fins de exercício, na medida em que seus respectivos objetivos finais eram atingidos. Como exemplo, as tropas da 1ª Bda Inf Sl adjudicadas à 2ª Bda Inf Sl já haviam retraído, a partir de Moura, para Manaus e daí para Boa Vista, enquanto que essa GU continuou seu movimento de retorno para Barcelos e São Gabriel da Cachoeira.

 O mesmo ocorreu com as tropas da 23ª Bda Inf Sl que estavam com a 16ª Bda Inf Sl, de modo que enquanto o pessoal e meios dessa GU seguia para Tefé e Tabatinga, os daquela retraíram para Manaus, para, em seguida, partirem para Belém, e daí para Marabá e Imperatriz.

 Cabe ressaltar, como se pode observar, que a reversão dos elementos, cujas sedes estavam localizadas fora do TO, continuaram sob responsabilidade da FTC. Assim, a reversão da Op Amz só terminou quando os últimos elementos da 23ª Bda Inf Sl, do Comando Art Ex, da Bda Pqdt, do 18º GAC, do COPESP e das Brigadas do CMA chegaram às suas Guarnições de origem.
Infere-se, parcialmente, que a Reversão da Operação Amazônia foi a fase em que o Com TO necessitou empregar, especialmente, sua capacidade logística a fim de permitir o retraimento das tropas e meios, contribuindo para o emprego do Exército na região Amazônica, posto que propiciou a verificação e a prática das capacidades logísticas presentes na Área de Operações do Comando Militar da Amazônia.

 

5. Conclusão

 O processo operativo da FTC durante a operação Amazônia permitiu o adestramento das tropas do CMA, propiciando seu emprego no ambiente operacional amazônico.

 Em síntese, diante do exposto, o desenvolvimento das fases do processo operativo da FTC foi um fator de êxito da Operação Amazônia, o que foi possível graças à aplicação eficiente das funções de combate, contribuindo para otimizar o emprego do Exército Brasileiro na região amazônica.

 A inserção do Sistema ASTROS na Operação possibilitou a coleta de informações relevantes quanto à sua atuação no ambiente operacional em tela, contribuindo para elaborar propostas para seu emprego em futuras operações na Amazônia, além de evidenciar a capacidade dissuasória e de mobilização do Exército Brasileiro, particularmente junto ao entorno estratégico do Brasil.

 Outra contribuição da operação Amazônia foi a constatação de que o emprego da F Cj Op Esp em favor das funções de combate Inteligência, Movimento e Manobra e fogos, atuando em prol da satisfação do Repertório de Conhecimentos Necessários, em apoio às demais Forças Componentes e na interdição de alvos estratégicos, agrega importante fator de êxito ao TO.

 O intenso emprego de destacamentos logísticos que acompanhem o Escalão de Combate, para suprimento imediato das frações que se deslocam à frente, evitando perda de tempo durante a Marcha para o Combate fluvial, foi mais uma contribuição que denota que a “logística na medida certa”, durante operações na Amazônia, está ligada diretamente à modularidade.

 Outra contribuição assinalada foi que o mapeamento das necessidades logísticas para uma Concentração Estratégica eficaz, especialmente no que tange ao transporte de tropas e meios, é de vital importância para um eventual emprego real na Amazônia Ocidental.

 A verificação de que a Cavalaria deve ser dotada com meios de combate fluviais que proporcionem velocidade e poder de combate, tais quais, lanchas Guardian e Jet Sky, para que possa ser empregada como Escalão de Reconhecimento, também foi considerada uma contribuição. É lícito afirmar a importância da readequação dos Programas de Adestramento das OM de Cavalaria da Amazônia, para serem empregadas com maior eficiência no complexo ambiente operacional.

 No espaço amazônico, é importante considerar a migração do combate na selva para o combate em localidades, decorrente do avanço tecnológico dos meios de detecção, que dificultam a ocultação sob a copa das árvores e que, inclusive, impõe a necessidade incrementar o adestramento específico para tal modalidade.

 A constatação de que é necessário descentralizar a Artilharia durante as operações na selva, especialmente na marcha para o combate fluvial, dadas as imposições do ambiente operacional amazônico, a fim de que seja proporcionado um apoio de fogo mais adequado, o pode ser assinalado como mais uma contribuição da operação em prol do eficiente emprego do EB na Amazônia.

 Por fim, é lícito afirmar que a Operação Amazônia foi uma ferramenta importante que contribuiu para a capacidade de defesa do País, uma vez que adestrou quadros e tropas, possibilitou contribuições no sentido de otimizar o emprego do EB no peculiar ambiente operacional amazônico e evidenciou a capacidade de mobilização, de concentração e de emprego de meios da Força Terrestre, além de fortalecer a capacidade dissuasória no sentido de respaldar as decisões soberanas do Brasil no que diz respeito à Amazônia Brasileira.

 

 Rio de Janeiro - RJ, 21 de dezembro de 2020.


 O autor é Ten Cel Inf (AMAN/00, EsAO/09 e ECEME/17). Serviu na EsAO, 1º BIS, 5º BIS e Cia C CMA. Atualmente é Adjunto da célula de Operações do CCOp/CMA.


Como citar este documento:
 Pereira, Leandro Basto. As Operações desenvolvidas em um Teatro de Operações predominantemente Terrestre e a aplicação do Processo Operativo da FTC durante a Operação Amazônia, com destaque para as Funções de Combate, concluindo sobre suas contribuições para o emprego operacional do Exército Brasileiro na região Amazônica. Observatório Militar da Praia Vermelha. ECEME: Rio de Janeiro. 2020.

 

6. BIBLIOGRAFIA

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  2. BRASIL. Ministério da Defesa. Exército Brasileiro. Comando de Operações Terrestres. Manual de Campanha Operações (EB70-MC-10.223). 5ª ed. Brasília, DF: 2017. 98 p.

  3. BRASIL. Ministério da Defesa. Exército Brasileiro. Comando de Operações Terrestres. Manual de Campanha Logística Militar Terrestre (EB70-MC-10.238). 1ª ed. Brasília, DF: 2018. 115 p.

  4. BRASIL. Ministério da Defesa. Exército Brasileiro. Comando de Operações Terrestres. Manual de Campanha Logística nas Operações (EB70-MC-10.216). 1ª ed. Brasília, DF: 2019a. 153 p.

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  6. BRASIL. Ministério da Defesa. Estado Maior Conjunto das Forças Armadas. Manual de Campanha Operações Ribeirinhas (MD33-M-15). 1ª ed. Brasília, DF: 2020. 35 p.

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  9. BRASIL. Ministério da Defesa. Exército Brasileiro. Departamento de Educação e Cultura do Exército. Nota de Coordenação Doutrinária (NCD) Nr 001/2015-DECEX – A Logística nas Operações. 1ª ed. Rio de Janeiro, RJ: 2015. 80 p.

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