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O fluxo migratório colombiano nos últimos anos: breve análise

Publicado: Domingo, 29 de Março de 2020, 08h01 | Última atualização em Quinta, 06 de Janeiro de 2022, 13h55 | Acessos: 1508

Gustavo da Frota Simões1

A Colômbia é um dos países da América do Sul que mais possui nacionais fora de seu território, ou seja, a Colômbia pode ser definida como um país de emigrantes. Existem basicamente dois tipos de imigrantes colombianos em outros países do globo: os imigrantes forçados e os imigrantes voluntários. No entanto, há um outro tipo de migrante pouco conhecido da Colômbia: o migrante forçado interno.

Com relação aos migrantes forçados internos, a pressão demográfica e a disputa de terras são um dos grandes motivos de expulsão de colombianos de seus territórios originários. Desde 1938 até 2005, data do último censo realizado na Colômbia, a população colombiana passou de pouco mais de oito milhões de pessoas para quarenta e um milhões (COLÔMBIA, 2005). A projeção para 2020 era de que existiriam aproximadamente 50 milhões de colombianos vivendo no território da Colômbia que somente diminuiu desde a sua independência.

Segundo o ACNUR, desde 1997 até 01 de dezembro de 2013, foram registrados oficialmente 5.185.206 deslocados internos com um impacto desproporcionado na população afro-colombiana e nas comunidades indígenas. Entre 2007 e 2013 aumentou a taxa de expulsão no país. Enquanto que em 2007, 25% das taxas de expulsão se concentrava em 17 municípios, em 2013 somente 20 municípios concentravam 50% (Buenaventura, Medellín, Tierralta, Suárez, Ricaurte, Riosucio, López de Micay y Puerto Asís). Os três departamentos com a concentração mais alta de deslocamentos massivos (mais de 50 pessoas) durante o ano de 2013 são Nariño, Antioquia e Chocó (Costa Pacífica). Os deslocados internos são desde zonas rurais até centros urbanos, o deslocamento intraurbano está aumentando e 51% dos deslocados internos residem nas 25 principais cidades da Colômbia (ACNUR, 2016).

Por outro lado, o deslocamento colombiano para o exterior se concentra, sobretudo na Espanha, Itália e Chile. Na Espanha, o número de imigrantes colombianos (com diferentes perfis e status migratórios) chegou a 42.166 em 2008, caindo consideravelmente após isso, principalmente por conta da crise econômica que afetou a Europa nesse período (CEHMCO, 2016). Outros países das Américas também receberam contingentes significativos de Colombianos, como foi o caso de Equador, Venezuela e Peru (vizinhos da Colômbia) e EUA e Brasil, em menor quantidade. Além disso, diversos colombianos também receberam refúgio no Canadá.

Grande parte desses deslocamentos pode ser atribuído à violência generalizada na Colômbia, especialmente quando o conflito entre grupos guerrilheiros (FARC) e o Governo e Grupos Paramilitares avançou para as grandes cidades. Diante disso, diversas pessoas tiveram suas vidas e liberdades ameaçadas e por esses motivos tiveram que sair do país.

Aliado ao conflito na Colômbia que dura desde a década de 1960, o país também sofreu como outros países latino-americanos uma crise econômica nos anos 1980, 1990, o que fez com que muitos dos seus nacionais tivesse que procurar melhores oportunidades em outros países.

Nos últimos anos, a Colômbia vem passando por um processo de construção da paz com diálogos avançando e um processo de desmilitarização em curso. Nesse sentido, as violências ocorridas durante os anos 1980, 1990 e início dos anos 2000 arrefeceram e o país apresenta bons índices de desenvolvimento econômico e social. Por outro lado, as crises econômicas em países do norte global, sobretudo Europa e EUA, e principalmente a crise econômica-política-social que vem passando a Venezuela, fez com que muitos cidadãos colombianos retornassem nos últimos anos. Aliado a esse retorno, a Colômbia experimenta de forma inédita o fluxo migratório venezuelano para o seu país, sendo o principal destino de venezuelanos fugindo da crise nos últimos anos. Por esses motivos, o perfil migratório da Colômbia aos poucos vai mudando de um país expulsor de pessoas para um país receptor de pessoas, notadamente de origem venezuelana, sobretudo nos últimos anos.

Boa Vista - RR, 29 de março de 2020.


1 Professor da Universidade Federal de Roraima (UFRR) e Doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Brasília (2017). Autor de diversos artigos sobre migração venezuelana e colombiana.


Como Citar este documento:

SIMÕES, Gustavo da Frota. O fluxo migratório colombiano nos últimos anos: breve análise. Observatório Militar da Praia Vermelha. Rio de Janeiro: ECEME. 2020.


Referências:

ACNUR. Los refugiados en cifras. Genebra: ACNUR, 2006 e 2016.

CEHMCO. Sistema de Información Migratória de America del Sur: OCDE, Immigración de personas de nacionalidad colombiana, según pais de llegada, 2000-2013. Dos Quebradas: CEHMCO, 2016.

COLOMBIA, Departamento Administrativo Nacional de Estatística. Boletín: Censo general de 2005. 2006. Disponível em: https://www.dane.gov.co/index.php/estadisticas-por-tema/demografia-y-poblacion/censo-general-2005-1. Acesso em: 28.02.2019.

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