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A expansão da ofensiva israelense e os ataques contra Israel

Publicado: Segunda, 14 de Outubro de 2024, 01h01 | Última atualização em Sexta, 20 de Dezembro de 2024, 09h00 | Acessos: 4399

Após um ano do início do conflito de Israel x Hamas, a situação no Oriente Médio tem se agravado com o envolvimento de novos atores regionais e internacionais, o que assinala um risco real de um conflito armado sem precedentes. Em meio à Operação Raízes do Cedro de repatriação de cidadãos brasileiros do território libanês, e aos ataques de mísseis do Hezbollah à cidade de Haifa, ao norte de Israel, o Observatório Militar da Praia Vermelha entrevistou a jornalista e colaboradora do Instituto Brasil-Israel Leila Sterenberg, para falar da perspectiva israelense e dos principais desafios do Estado de Israel a partir de agora:

Leila Sterenberg
 Jornalista. Âncora do Meio Tempo (FGV-ECMI). Colaboradora do Instituto Brasil-Israel (IBI).
Criadora do CEBRI Conversa (CEBRI).


1. OMPV: É sabido que o Irã fornece material de emprego militar ao Hezbollah, principalmente mísseis e foguetes, e que um dos objetivos dessa medida é reforçar o ataque ao território israelense, a partir do Líbano, em caso de um possível conflito com o Irã. Na sua opinião, os recentes ataques do Hezbollah direcionados a Israel estão sendo realizados com a aquiescência do Irã ou o Hezbollah está usando esses armamentos de forma deliberada, contrariando eventuais acordos existentes com os iranianos?

Leila Sterenberg: Mais do que opinião, é necessária aqui uma investigação - algo que, em se tratando dos atores envolvidos, a saber, o regime iraniano e a cúpula do Hezbollah, não é exatamente fácil de realizar. A pergunta é excelente, porque se refere ao nível de alinhamento existente entre Hezbollah e Irã, algo chave para o desenrolar do conflito. É uma informação, contudo, da qual a inteligência de Israel provavelmente dispõe - o que talvez ajude a explicar por que a resposta de Israel ao ataque iraniano de 1º de outubro ainda não veio, mas se traduziu numa intensificação das operações em território libanês.

 

2. OMPV: Na sua concepção, quais seriam os principais objetivos de Israel ao conduzir ataques sucessivos contra o Hezbollah?

Leila Sterenberg: O objetivo declarado é conter o Hezbollah, para que os milhares de moradores do norte de Israel, deslocados de suas casas desde o início dos ataques do grupo xiita, em outubro de 2023, voltem a suas casas. Chegou-se a falar em solucionar o problema, por meio de um acordo, antes de 1º de setembro de 2024, data do início do ano letivo, para que as crianças pudessem voltar às suas escolas, mas isso não aconteceu. Podemos observar, contudo, outras consequências dos ataques: desvio da atenção da opinião pública israelense e da diplomacia mundial, que passam a observar o que ocorre no embate Israel x Hezbollah e não mais em Gaza, onde há uma guerra inacabada, sem que haja um plano consistente para o dia seguinte ao armistício e para a reconstrução - e sem que haja a libertação dos reféns. Desvio de atenção também do fato de que Yaya Sinwar, líder do Hamas, ainda não foi “eliminado”, para usar o termo empregado pelas Forças de Defesa de Israel.

 

3. OMPV: Logo após o ataque do Irã contra Israel, no dia 1º de outubro de 2024, Benjamin Netanyahu deu a seguinte declaração à imprensa: “O regime do Irã não entende nossa determinação de nos defender e nossa determinação de retaliar nossos inimigos”. Ainda nesse contexto, Yoav Gallant, Ministro da Defesa israelense, afirmou em pronunciamento: “Quem pensa que, ao tentar atacar Israel, nos impedirá de reagir, deve olhar para o que está acontecendo em Gaza e o que está acontecendo em Beirute - as coisas são muito claras.” Diante dessas declarações, que medidas podemos esperar de Israel, como retaliação ao ataque iraniano?

Leila Sterenberg: É preciso separar as falas das ações, sobretudo no caso de Netanyahu, que construiu sua carreira política como o “senhor segurança”, imagem essa que ficou completamente chamuscada a partir de 7 de outubro de 2023, com o ataque do Hamas. É pouco provável que haja uma atuação de Israel no território iraniano como vemos na Faixa de Gaza ou no Líbano, até por uma questão geográfica: Irã e Israel não são fronteiriços. E os Estados Unidos dificilmente apoiariam uma escalada do conflito nesse nível. O que se especula hoje é muito mais um ataque de Israel a instalações militares iranianas. Quais serão elas? Não sabemos.

 

4. OMPV: Na sua concepção, como o povo judeu vê a atuação de seu primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, durante todo conflito no Oriente Médio? Até que ponto a existência de reféns judeus, nas mãos do Hamas, influencia a opinião pública da sociedade israelense?

Leila Sterenberg: Não é possível generalizar. O “povo judeu” é muito diverso. Há aqueles que continuam apoiando Netanyahu. Há aqueles que acham que ele foi o responsável, em última instância, pelo 7 de outubro. Há aqueles que não veem um problema na presença de radicais como Itamar Ben Gvir e Bezalel Smotrich no governo. Há aqueles que acham isso um completo absurdo e temem o caráter corrosivo dessa presença para o futuro do Estado de Israel. Mas com certeza a existência de reféns judeus nas mãos do Hamas influencia a opinião pública. Quanto a isso, não há a menor dúvida - e a maior prova é a mobilização das famílias dos reféns com o movimento Bring Them Home Now e as manifestações que levam milhares de pessoas todas as semanas às ruas de Tel Aviv.

 

5. OMPV: Recentemente, dois fatos surpreendentes marcaram o conflito de Israel contra o Hezbollah: a explosão de pagers, que estavam com seus membros; e a morte das suas principais lideranças, presentes à reunião de emergência, convocada para definir a reação do Hezbollah contra Israel. Na sua opinião, essas ações podem ser consideradas como respostas do Serviço de Inteligência de Israel à sociedade, após ter sido duramente criticado por não ter evitado o ataque do Hamas, no dia 07 de outubro de 2023?

Leila Sterenberg: À sociedade israelense e aos inimigos regionais, dentro da lógica da contenção, em que é preciso demonstrar poder. O episódio dos pagers e o assassinato de lideranças do Hezbollah passam a mensagem de que Israel tem um serviço de inteligência mais que eficiente e é capaz de planejar ações militares engenhosas. Esse capítulo também evitou (ou adiou) a queda do ministro da Defesa, Yoav Gallant, que Netanyahu, segundo a imprensa israelense, queria demitir em meados de setembro, atendendo a apelos de radicais do governo, como Ben Gvir.

 

 

Rio de Janeiro - RJ, 14 de outubro 2024.


 

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