O conflito na Ucrânia: um olhar transversal sobre a governança internacional
Claudia Cataldi
Jornalista. Mestre em Ciência Política e Presidente da
Associação Brasileira de Imprensa de Mídia Digital e Eletrônica - RJ
O conflito na Ucrânia, que eclodiu em 2014 e se intensificou em 2022, representa um divisor de águas no arcabouço da ordem geopolítica contemporânea. Neste contexto, a análise dos múltiplos atores envolvidos revela a complexidade das dinâmicas de poder que transcendem as fronteiras nacionais, configurando um verdadeiro laboratório de novos paradigmas de governança global.
A Rússia, como um dos players centrais no atual tabuleiro geopolítico global, busca reafirmar sua influência sobre a região, utilizando-se de uma narrativa que mescla historicidade e segurança nacional. A anexação da Crimeia e o apoio a movimentos separatistas no Donbass, (conflito armado entre os oposicionistas separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk), ilustram a estratégia russa de reafirmar sua esfera de influência, utilizando-se do conceito de "protetorado" para legitimar suas ações. Este movimento não é isento de críticas, suscitando um debate acirrado entre os diversos atores, que incluem não apenas Estados-Nação, mas também organizações internacionais e players não estatais.
Por outro lado, o Ocidente, com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e a União Europeia à frente, responde a este cenário com um robusto pacote de sanções econômicas contra a Rússia e apoio militar à Ucrânia. Este suporte, que se manifesta em um incremento nas capacidades defensivas ucranianas, revela uma tentativa de reconfiguração de equilíbrio do poder na Europa, onde a governança coletiva se coloca como uma alternativa à unilateralidade das ações russas. Assim, a transversalidade das relações internacionais emerge como um fator crucial, evidenciando que a segurança de um Estado não se dá de forma isolada, mas interligada a uma rede de interdependências.
Em vista disso, é imperativo considerar que o conflito russo-ucraniano não é apenas uma disputa territorial, mas uma verdadeira luta pela definição de um novo modelo de governança internacional. O que está em jogo é a legitimidade dos Estados em moldarem seus próprios destinos em um cenário global cada vez mais multipolar. O conceito de soberania, à luz deste conflito, deve ser reavaliado, pois as ações de um podem ter repercussões diretas na governança de outros, desafiando, assim, a tradicional visão de que cada Nação é um ente autônomo e isolado.
Neste cenário, a narrativa do "direito à autodeterminação" torna-se uma arma, utilizada tanto por aqueles que buscam a independência (como os separatistas em Donetsk e Luhansk) quanto pelos Estados que anseiam por preservar sua integridade territorial. Portanto, a necessidade de um diálogo multilateral que engaje todos os players é premente, a fim de evitar que o conflito se arraste indefinidamente, consumindo recursos e vidas, além de potencialmente desestabilizar a região mais ampla da Europa Oriental.
O conflito emerge como um convite à reflexão sobre as fragilidades e potencialidades da governança internacional. O tumultuado cenário atual, não apenas expõe as fissuras da arquitetura global de poder, mas também clama por uma reinvenção da diplomacia, onde a colaboração e o diálogo tornem-se as ferramentas primordiais para a resolução de crises.
Rio de Janeiro - RJ, 30 de outubro 2024.
Como citar este documento:
Cataldi, Claudia. O conflito na Ucrânia: um olhar transversal sobre a governança internacional. Observatório Militar da Praia Vermelha. ECEME: Rio de Janeiro. 2024.
.