Cultura e valores militares: os desafios da liderança militar no contexto da modernidade líquida
Luiz Augusto Fontes Rebelo
Coronel do Exército Brasileiro. Chefe da Seção de Operações do
Comando Militar do Nordeste. Possui o CPEAEx da ECEME.
1. Introdução
Se você quer mudar o mundo, comece arrumando a sua cama (McRAVEN, 2017). Essa passagem foi retirada do livro Make your bed, escrita pelo Almirante veterano Seal da Marinha norte-americana, William H. McRaven, e indica um ritual matinal, bem representativo da cultura militar.
O ato de arrumar a cama carrega um simbolismo e uma gama de valores intrínsecos de uma instituição militar, tais como o sentimento do dever, a responsabilidade, a organização, o zelo etc. A arrumação da cama ainda pode ser considerada como uma demonstração de disciplina, um compromisso com procedimentos estabelecidos, como por exemplo, a norma vigente e a ordem estabelecida em uma Unidade Militar. Os militares são treinados para seguir regras e padrões rigorosos e a sacrificar a vida pela Pátria. A arrumação da cama é um mero exemplo de que cumprindo essa tarefa, em tempos de paz, a disciplina no campo de batalha, sob as ações de atuadores cinéticos e não cinéticos, será exercida.
Se partir do princípio de que ninguém nasce com crenças e valores morais internalizados, ou seja, não são inatos, urge admitir que é pela educação que o indivíduo tem a chance de construir sua personalidade moral (BRASIL, 2011). A liderança pelo exemplo, vivenciada no estamento militar, representa a melhor estratégia pedagógica para repassar conhecimentos basilares tradicionais da caserna.
O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, em seu livro Modernidade Líquida, aponta que as relações sociais, econômicas e de produção se tornaram frágeis, fugazes e maleáveis, como os líquidos, na atualidade (BAUMAN, 2001). A globalização, a instantaneidade da informação, o choque de gerações e o advento da Web 2.0[1] serviram de indutores para recrudescer essa liquidez. Isso tem interferido no comportamento das pessoas e das instituições de forma agressiva, induzindo a sociedade a criar as novas gerações sob tendências comportamentais disfuncionais (CHIAVENATO, 2010). Afinal, para que arrumar a cama ao acordar, se a mãe, a avó ou a empregada doméstica o fará?
Ao longo desse artigo, serão abordados o conceito de modernidade líquida, a definição de crenças e valores castrenses, o papel da liderança militar e os desafios éticos militares na atualidade.
2. A modernidade líquida
Cada vez mais se discute a crise de valores e o déficit cívico e moral no Brasil. A sociedade da “segunda modernidade” de Ulrich Beck ou a sociedade da “modernidade fluída” (BAUMAN, 2001) se comporta como uma área de camping. O lugar está aberto a quem quer que venha com sua barraca para alugar o espaço, durante o tempo que ficar hospedado; os hóspedes vêm e vão; ninguém presta atenção de como o lugar é gerido e quem gere o espaço; ninguém se interessa em saber quem dita as regras; os banheiros podem ser unissex, desde que a esposa e a filha do hóspede não passem por esse constrangimento; não há preocupação em se manter limpo o local, mas a sua área alugada deve estar limpa. O som e o estilo musical dos vizinhos são permitidos, desde que não atrapalhe o seu churrasco e a sua música. Enfim, o que os hóspedes almejam é que os administradores do camping os deixem à vontade a exercerem sua individualização. Em troca, não pretendem desafiar as autoridades dos gestores, entrar em conflito com o vizinho e ocasionalmente reivindicar melhores serviços na área. Sublinha-se que os hóspedes são incapazes de assumir a responsabilidade pelo gerenciamento do lugar e se tomar conhecimento de alguma irregularidade dos administradores, preferem pensar que ele rouba, mas faz.
O cenário ilustrado acima é completamente diferente de um acampamento militar, que metaforicamente corresponde a sociedade da “modernidade sólida”. O acampamento militar é obcecado pela ordem, pela disciplina e pelo coletivismo. Há controle de acesso, de luzes e ruídos. Os itinerários de circulação de pessoas e viaturas são pré-definidos. Há respeito pelas pessoas, uma vez que há hierarquia e espírito de corpo. Nesse sentido, todos aqueles que fazem parte do acampamento são responsáveis pela segurança coletiva de todos e há um respeito mútuo no local, pois todos estão ali por uma finalidade.
Com esses exemplos, fica mais fácil de externar o conceito de modernidade líquida (BAUMAN, 2001), cunhado pelo filósofo Zygmunt Bauman para definir esse mundo cada vez mais globalizado, interconectado, individualizado e sem fronteiras informacionais. A liquidez e a volatilidade seriam os aspectos que vieram desordenar todas as dimensões da vida social, como a família, a cultura, as relações interpessoais, as rotinas domésticas, o trabalho etc. A individualização chegou para ficar. Vive-se a Sociedade dos indivíduos, título do livro de Norbert Elias, que com perfeição capta a essência do problema que assombra a teoria social contemporânea (ELIAS, 1994).
Os defensores da modernidade líquida costumam acusar as instituições tradicionais como totalitaristas e autoritárias. São consideradas instituições tradicionais: a família, a igreja, as Forças Armadas, as Polícias Militares, dentre outras. Tais críticos consideram tais instituições um fantasma a ser exorcizado ou uma bomba nunca inteiramente desarmada, sob a sua lente de percepção de ameaça. O principal objetivo dessa teoria crítica é a “defesa da autonomia, da liberdade de escolha, da autoafirmação humana, do direito de ser e permanecer diferente” (BAUMAN, 2001, p. 28).
Nesse sentido, as crenças e os valores repassados pelas referidas instituições, por meio de tradições, rituais, costumes e práticas culturais foram exorcizados ao longo do tempo e o seu poder de influência na formação da identidade cultural, na moral e na ética coletiva foram mitigados em consequência.
Essa percepção, que já é sentida pelas gerações mais velhas, já é percebida pela geração que alvoreceu ao longo da modernidade líquida. Uma pesquisa realizada em 2022 pelo Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO) em parceria com o Datafolha, constatou que a sociedade brasileira é pouco ou nada ética, para cerca de 90% dos entrevistados (pessoas entre 14 e 24 anos) (ETCO, 2022).
O Exército Brasileiro, sendo uma instituição que preza pela disciplina, pela hierarquia e está profundamente apegada aos seus valores e tradições, não pode ficar alheio a essa modernidade fluída, que tem influenciado o pensamento, a motivação, os objetivos de vida e principalmente, as crenças e valores da instituição.
3. Crenças e valores castrenses: bases da cultura militar
Nesta seção, é importante abordar as crenças e os valores militares no contexto da modernidade líquida. Sublinha-se que a profissão militar tem características próprias que a distingue de outras carreiras profissionais e nesse escopo de distinções laborais, é imperativo entender quais artefatos compõem a cultura militar.
O exercício da profissão militar, repleto de sacrifícios pessoais e familiares, de desconfortos físicos e mentais, exige a adoção de valores morais e princípios éticos que servem como uma bússola para o cumprimento de seus deveres. Nesse sentido, faz-se mister sublinhar as características da profissão militar que a distingue dos demais ramos profissionais e decorrem da necessidade do estabelecimento de códigos ético-morais específicos: “(1) risco de vida; (2) sujeição a preceitos rígidos de disciplina e hierarquia; (3) dedicação exclusiva; (4) disponibilidade permanente; (5) vigor físico; (6) mobilidade geográfica; e (7) formação específica e aperfeiçoamento constante” (BRASIL, 2016, p. 4).
Nesse diapasão, urge a necessidade em se compreender o que são crenças e valores. Inicialmente, é importante frisar que as crenças e valores estão inter-relacionados e são incorporadas mediante um processo de aprendizagem. A crença, de maneira reducionista, é tudo o que uma pessoa acredita ser verdade. Ela estabelece prioridades morais e éticas, servindo de guia para todas as atitudes de um indivíduo.
As crenças podem ser classificadas em universais (todas as pessoas possuem) e pessoais (algumas pessoas possuem e outras não). Outra maneira de classificar as crenças diz respeito a origem da formação. Nesse sentido, as crenças podem ser desenvolvidas:
a. por aprendizado: ocorre quando o indivíduo aprende a crença com alguém. Aqui é importante ressaltar o papel da liderança na vida de outra pessoa, como a mãe, o pai, a professora, o sacerdote, o tenente, o sargento etc.
b. por repetição: quando a situação ocorre repetidas vezes, tendo como exemplo, as frases de ordem: “não espere, faça”; “missão dada é missão cumprida”, dentre outras.
Já os valores representam o grau de importância atribuído, subjetivamente, a pessoas, conceitos ou fatos (BRASIL, 2011, p. 4-3). Os valores não podem ser vistos ou ouvidos, mas apesar disso, são reais, influenciando, de modo consciente e inconsciente, o comportamento das pessoas. O ponto alto é que os valores não são inatos; eles são aprendidos.
De acordo com o Vade-mécum de Cerimonial Militar do Exército, os valores militares são os seguintes: patriotismo, civismo, fé na missão do Exército, amor à profissão, espírito de corpo e aprimoramento técnico-profissional (BRASIL, 2016). A tabela abaixo apresenta a descrição dos referidos valores:
Tabela 1 - Valores militares
Valor |
Descrição |
Patriotismo |
Vontade inabalável de cumprir o dever militar (o apego ao cumprimento das missões) e pelo solene juramento de fidelidade à Pátria até com o sacrifício da própria vida. |
Civismo |
O conceito refere-se a um comportamento que se desenvolve de acordo com as regras de convivência que regulam a vida social. Também pode estar ligado ao respeito pelas instituições e pelas leis. |
Fé na missão do Exército |
Refere-se à crença profunda e compromisso dos membros do Exército com os objetivos e propósitos de sua instituição. Essa fé inclui o compromisso com os valores, ideais e objetivos do EB, como defender a segurança nacional, proteger a soberania do país, garantir a lei e a ordem, além de cumprir suas missões operacionais de forma eficaz e ética. |
Amor à profissão |
Descreve um profundo compromisso emocional e dedicação à carreira militar. Envolve uma paixão genuína pelo serviço ao país, pelo cumprimento das responsabilidades militares e pelo trabalho em equipe dentro da instituição militar. Os que possuem amor à profissão militar encontram satisfação no desafio e na disciplina da vida militar, bem como no senso de propósito e dever que ela proporciona. Essa dedicação vai além do aspecto profissional e muitas vezes se torna uma parte fundamental da identidade e do estilo de vida dos militares, influenciando suas escolhas, valores e decisões. |
Espírito de corpo |
Refere-se ao senso de unidade, camaradagem e coesão dentro de um grupo ou organização, especialmente em contextos militares. Esse termo descreve a lealdade mútua, o apoio e a solidariedade entre os membros de uma unidade militar, que compartilham objetivos comuns, enfrentam desafios juntos e confiam uns nos outros. |
Aprimoramento técnico-profissional |
Descreve o processo contínuo de desenvolvimento e melhoria dos conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias para desempenhar a profissão militar de forma eficaz. |
Fonte: BRASIL, 2016.
Além desses valores, a Portaria nº 12, de 12 de maio de 1998, do então Departamento de Ensino e Pesquisa do Exército Brasileiro, apresentou os valores essenciais básicos que devem ser desenvolvidos e aprimorados por todos os militares da instituição: 1) autoaperfeiçoamento; 2) civismo; 3) espírito de corpo; 4) idealismo; e 5) patriotismo (BRASIL, 1998). Ademais, a instituição, por meio da Portaria nº 657 do Comandante do Exército, de 4 de dezembro de 2003, delineou também outros valores virtuosos: 1) dever; 2) lealdade; 3) probidade; 4) coragem; e 5) patriotismo. A convergência de todos esses valores compõe a deontologia militar, ou seja, o código de ética militar (BRASIL, 2003).
4. O papel da liderança militar no fortalecimento das crenças e valores
Nos cenários complexos e dinâmicos da era do conhecimento, o Exército Brasileiro, como instituição de Estado, desempenha um papel fundamental na preservação da soberania e garantia dos poderes constitucionais e da lei e da ordem do país, conforme atesta a Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988).
Diante dessa responsabilidade, cabe ao soldado a missão de zelar, em tempos complexos, conturbados e incertos, pela defesa e a lei e a ordem do país, pois o mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer (EINSTEIN, 2016). Desse modo, apesar da falta de percepção da importância da defesa pela sociedade brasileira, o Exército Brasileiro se mantém em permanente estado de prontidão, contando com uma complexa rede de lideranças, diretas e indiretas, que são indutoras das crenças e valores da profissão militar.
A liderança militar consiste em um “processo de influência interpessoal do líder militar e seus liderados” (BRASIL, 2011, p. 3-3). O líder militar deverá ter uma consciência reta, sendo um guardião dos valores morais inerentes à profissão das armas. Não poderá se entregar à imoralidade ou a infração voluntária e consciente dos valores morais consagrados. O líder militar, ainda, deverá estar permanentemente atento às suas decisões, ordens ou diretrizes, pois, a percepção por parte dos liderados, de que o líder possui uma conduta moral correta contribuirá sobremaneira para o estabelecimento de laços de confiança mútua. Ou seja, o líder militar precisa liderar pelo exemplo.
No desenvolvimento do fenômeno de liderança deverão estar presentes os seguintes fatores: 1) uma situação; 2) o líder; 3) os liderados; e 4) a interação entre as partes (BRASIL, 2011, 2-2). Dessa forma, as situações criadas pelos líderes militares devem possibilitar, sempre que possível, o fortalecimento de atitudes positivas, de crenças e valores castrenses, corroborando para a tonificação da cultura militar.
Não menos importante, o líder militar precisa ter bom ânimo para ensinar. Todo bom líder é um pedagogo em potencial, uma vez que ele deve ter prazer e entusiasmo em desenvolver o seu liderado. Como foi abordado anteriormente, as crenças podem ser desenvolvidas por aprendizagem e repetição.
Além disso, o líder militar necessita desenvolver sua capacidade de comunicação. Ele precisa saber expressar as crenças e valores castrenses (falar o linguajar da tropa), sempre servindo de exemplo para os seus liderados, por meio de ações coerentes que procura transmitir (BRASIL, 2011). Na sociedade da modernidade líquida, em que a precipitação, a superficialidade, o imediatismo e a conturbação (PSIC) na dimensão informacional, atingiram patamares consideráveis, conforme descrito pelo General de Exército Richard Fernandez Nunes, avulta de importância o exercício da liderança direta para esclarecer e informar a tropa tempestivamente (NUNES, 2023).
Sublinha-se que o processo de aprendizagem significativa pelos liderados só ocorre se houver uma relação de credibilidade e confiança entre as partes: líder e liderado. Nessa lógica, os subordinados tendem a imitar as características demonstradas pelo líder militar, por isso a liderança pelo exemplo é tão importante. Isso evidencia a importância da conduta moral de quem pretende exercer a liderança militar, pois atitudes são mais facilmente imitadas do que aprendidas (BRASIL, 2011).
5. Desafios éticos militares na modernidade líquida
Na sociedade da modernidade líquida, o acesso à informação ocorre de maneira ampla e multifacetada, impulsionado principalmente pelo avanço tecnológico e pela ubiquidade da internet. As mídias digitais estão ganhando cada vez mais relevância, como sites de notícias, blogs e podcasts. Os principais desafios advindos dessas mídias são a propagação da desinformação e de fake news sobre o Exército Brasileiro, podendo abalar a coesão, a saúde mental e a credibilidade da instituição perante o seu público interno e a opinião pública.
Outro desafio desta modernidade fluída é o excesso de relativização de toda ordem praticado pelos cidadãos na sociedade brasileira. Como o soldado é orgânico da sociedade, com a “epidemia” da relativização excessiva, essa conduta generalizada pode levar à perda de clareza e firmeza nos princípios éticos, crenças e valores que fundamentam o Exército Brasileiro, minando a integridade e a coesão da instituição.
A relativização pode, ainda, abrir espaço para comportamentos moralmente questionáveis, como o abuso de poder, a corrupção e a violação dos direitos humanos, sob o pretexto de que não existe uma verdade dita absoluta. Por isso, as demonstrações éticas de líderes militares do passado devem inspirar os líderes militares de hoje. O comportamento antiético no meio militar é intolerável. Deste modo, a ação de comando e programas de educação continuada sobre ética, valores e história são tão importantes para se manter inabaladas a cultura institucional do Exército Brasileiro e a credibilidade e legitimidade institucional.
Não menos importante, vive-se no Brasil, uma cultura enraizada de “deveres nanicos em terra de direitos”, ou seja, uma sociedade em que as pessoas só têm direitos, mas não deveres e obrigações (GARSCHAGAN, 2018). Os impactos para o estamento militar pode ser a subvalorização do sacrifício do serviço militar. Quando os direitos são enfatizados em detrimento dos deveres, pode-se subestimar o sacrifício e o serviço prestado pelos militares em prol da defesa nacional e da sociedade brasileira. Ademais, nessa modernidade fluída, sob a ótica da busca pelo aumento dos direitos individuais, pode-se gerar impacto na eficiência operacional do Exército Brasileiro. Uma sociedade que prioriza os direitos individuais sobre os deveres coletivos pode enfrentar dificuldades na mobilização e na compreensão da necessidade de aumento do Produto Interno Bruto (PIB) para o setor de defesa, visando a otimização da prontidão operacional e logística da Força Terrestre.
O “politicamente correto” é um componente de policiamento linguístico que impregnou a sociedade da modernidade fluída. Tal expressão surgiu e se popularizou nos EUA entre os anos de 1970 a 1990 (MAGENTA, 2022). A referida expressão significa uma forma de censura, de ataque à liberdade de expressão e de um suposto vitimismo. Nas empresas e órgãos públicos, os sintomas do “politicamente correto” invadiram os seus quadros. Nas Organizações Militares, as crenças e valores ainda são posições defensivas da cultura tipicamente militar.
6. Considerações finais
Na contemporaneidade, a modernidade líquida é caracterizada pela fluidez e derretimento da valorização das crenças, valores e referências históricas e pela liquefação das tradições de instituições sólidas, firmamentos de uma sociedade.
É nesse cenário impregnado de precipitação, superficialidade, imediatismo, complexidade e conturbação que está imerso o Exército Brasileiro. Este estudo buscou enriquecer a discussão da importância da liderança militar no enfrentamento dos desafios impostos por essa modernidade para a manutenção da coesão, credibilidade e eficiência operacional da instituição.
A liderança militar é a indutora da cultura na caserna e promotora das crenças e valores militares no âmbito do Exército Brasileiro. Os requisitos profissionais gerados pela fluidez da sociedade moderna exigem a constante adaptação dos conhecimentos e métodos em consonância com as características da liderança militar no século XXI. Essa demanda ressalta a necessidade premente de uma liderança robusta, fundamentada em princípios éticos sólidos.
Desde a sua gênese em Guararapes, em 1648, até os dias atuais, “os desafios são novos, mas os valores são os mesmos”, como atesta o slogan institucional castrense. O ato de arrumar a cama, no alvorecer, realizado desde os tempos de Caxias, pode parecer uma tarefa ingênua e corriqueira, mas, em um mundo cada vez mais complexo e fluído, denota um representativo simbolismo. Se o profissional militar não é capaz de realizar pequenas tarefas corretamente, como pode estar em estado permanente de prontidão para defender a Pátria, quando ela for ultrajada? Não há dúvidas que a cultura e os valores militares são os vetores congruentes que modelam a identidade e fomentam o desempenho do Exército para cumprir as suas missões constitucionais com efetividade e integridade. Nesse sentido, no ambiente inundado pela modernidade líquida, cresce, cada vez mais, o papel da liderança militar na preservação e fortalecimento desses valores mais caros da caserna.
[1] Web 2.0 é um termo cunhado em 2003 pela empresa estadunidense O’Reilly Media para designar uma segunda geração de comunidades e serviços baseados na plataforma Web, como wikis, aplicações baseadas em folksonomia e redes sociais.
Referências Bibliográficas:
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GARSCHAGAN, Bruno. Direitos máximos, direitos mínimos: o festival de direitos que assola o Brasil. Rio de Janeiro: Record, 2018.
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MAGENTA, Matheus. O que é politicamente correto? BBC, 2022. Disponível em: https://ww w.bbc.com/portuguese/geral-62550838. Acesso em: 30 de abril de 2024.
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McRAVEN, Willian H. Make Your Bed: Little Things That Can Change Your Life...and Maybe the World. New York: Grand Central Publishing, 2017.
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NUNES, Richard Fernandez. Ministério da Defesa. Exército Brasileiro. O Mundo PSIC e a Ética Militar. EBlog, 2023. Disponível em: https://eblog.eb.mil.br/w/o-mundo-psic-e-a-etica-mil itar?p_l_back_url=%2Fsearch%3Fq%3Do%2Bmundo%2Bpsic&p_l_back_url_title=Search Acesos em: 20 de abril de 2024.
Rio de Janeiro - RJ, 14 de junho 2024.
Como citar este documento:
Rebelo, Luiz Augusto Fontes. Cultura e valores militares: os desafios da liderança militar no contexto da modernidade líquida. Observatório Militar da Praia Vermelha. ECEME: Rio de Janeiro. 2024.
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