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Análise de Situação Conflito Israel x Hamas

Publicado: Quarta, 11 de Outubro de 2023, 01h01 | Última atualização em Segunda, 16 de Outubro de 2023, 22h42 | Acessos: 1252

 

Sandro Teixeira Moita
 Doutor em Ciências Militares e Professor da ECEME.

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1. Introdução

Em 7 de outubro de 2023, o grupo palestino Hamas lançou uma série de ataques contra Israel, naquilo que denominou “Operação Inundação de Al-Aqsa”. A sofisticada ação, com efetivos de mais de mil e quinhentos homens, após uma barragem de milhares de foguetes contra Israel, produziu efeitos de surpresa operacional, senão estratégica, permitindo ataques contra posições militares das Forças de Defesa de Israel, vilarejos próximos as fronteiras de Gaza, localidades com grandes concentrações e drones carregando munições usadas contra viaturas militares israelenses.

Como foi possível ao Hamas então empreender uma operação complexa e ousada contra um inimigo superior, com capacidades de Vigilância, Inteligência e Reconhecimento das mais avançadas no mundo?

2. Desenvolvimento

Há duas gerações o Estado de Israel não observava uma violência de tal monta em seu próprio território. Obviamente que a nova rodada de hostilidades não podia ser algo inesperado, considerado o histórico das conflituosas relações entre Israel e Hamas, mas o grau da surpresa obtido pelo grupo palestino deve ser entendido, pois é aquilo que indica os caminhos pelos quais o conflito se desenrolará, bem como a extensão e peso da resposta que será dada por Israel e, na dialética entre atores que caracteriza o que se entende por uma guerra.

Se antes, Israel se movia por uma estratégia de “aparar a grama”, o que explica o caráter das operações de 2009, 2012, 2014, 2021 e 2022, a escala do ataque demonstra uma fragilidade deste conceito, uma vez que o Hamas e demais facções palestinas que se colocaram a seu comando desta vez, especialmente a Jihad Islâmica Palestina, não tiveram suas capacidades degradadas decisivamente. Ironicamente, a cada rodada de luta, ambos os lados sempre clamaram vitória, que parece algo extremamente afastado do panorama estratégico.

Assim, o desafio imposto para Israel neste momento é complexo e multifacetado: um país dividido por uma crise política, em meio a um movimento de desengajamento de seu principal aliado da região e fronteiras e um movimento político de normalização de relações com rivais históricos.

Não à toa, o principal serviço de inteligência de segurança de Israel, o Shin Bet, estava com as energias voltadas para lidar com uma nova ameaça ao país, como a movimentação política da extrema-direita, que representa um desafio enorme a coesão nacional e a segurança, uma vez que suas demandas passam por tensões com comunidades árabes locais e uma política brutal para com os palestinos. Para além disto, os privilégios concedidos ao ultra-ortodoxos, como a liberação do serviço militar, dentre outros, passam a impressão de colocar outros para lidar com os problemas, o que abala a coesão social.

Ao mesmo tempo, enquanto Israel lançava sua resposta contra as ações do Hamas, denominada Operação “Espadas de Ferro”, o Hizbullah, ao sul do Líbano, começou a lançar ataques contra o Norte de Israel, usando foguetes, mísseis e material anticarro (antitanque). Embora em muito menor grau que as munições lançada de Gaza, tais ataques elevam o estado de tensões e já promoveram movimentações de Israel em posicionar tropas na fronteira para responder ao fogo, e a preparação da população para buscar abrigos e transferir pacientes de hospitais para complexos hospitalares fortificados.

A convocação de mais de 300 mil reservistas para as Forças de Defesa de Israel em 48 horas e as operações de combate no Sul tendo sido declaradas finalizadas, os prospectos de uma ação terrestre em Gaza se tornam maiores, em face do mais de mil e duzentos mortos e três mil feridos nos ataques e o clamor por uma ação decisiva que responda aos ataques de 7 de outubro, que já ocupam um lugar na história do conflito israelo-palestino.

A concentração de brigadas israelenses na fronteira com Gaza e o lançamento de uma campanha de bombardeios aéreos e terrestres, com grandes quantidades de bombas e granadas indicam que Israel pode estar seguindo uma retaliação pesada. O ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, indicou que uma ação em Gaza se destina a ter efeitos duradouros, punindo o Hamas. Entretanto, o cerco realizado pelos israelenses impede até mesmo a entrada de água, víveres e combustível em Gaza, criando uma situação catastrófica, já dramática para a população palestina que se encontra no meio do enfrentamento.

As autoridades israelenses sinalizam que a ação em Gaza se destina a mudar o status quo do conflito. Mas um recorrido histórico recente, lembrando das operações israelenses, que também sinalizavam um enfraquecimento dos grupos militantes palestinos, usando o poder de fogo das Forças de Defesa de Israel, falharam em produzir tal resultado.Voltando mais um pouco, pode-se considerar mesmo as lições da intervenção israelense na guerra civil do Líbano em 1982, destinada a dar um duro golpe nas organizações palestinas que ali estavam. Vislumbrando uma guerra rápida, Israel acabou permanecendo com tropas por dezoito anos naquele país, viu ações controversas afetarem seu prestígio internacional, além de observar o surgimento de um outro movimento adversário: o Hizbullah.

3. Considerações Finais

Dessa forma, os ataques de 7 de outubro de 2023 já tem seu lugar reservado na história de Israel, sendo mais uma página no conflito israelo-palestino, com consequências dramáticas não só para as sociedades envolvidas na luta, mas também para o Oriente Médio. A forma como Israel conduzirá suas ações e se o Hamas conseguirá trazer de volta a questão palestina ao debate nos países árabes são facetas mais visíveis da luta em curso.

Mas também não se pode desconsiderar implicações geopolíticas mais profundas da competição entre grandes potências. O deslocamento de um grupo de batalha da Marinha dos EUA, com o navio-aeródromo USS Gerald Ford, serve como demonstração do apoio americano à Israel, mas também uma mensagem para países como o Irã, possível patrocinador dos grupos palestinos e principal interessado em fazer fracassar os esforços diplomáticos de normalização de relações de Israel com os países árabes. A ver como se desenrolará o atual conflito, tanto em sua dimensão local quanto regional.

 

Rio de Janeiro - RJ, 11 de outubro de 2023.


Como citar este documento:
Moita, Sandro Teixeira. Análise de Situação Conflito Israel x Hamas. Observatório Militar da Praia Vermelha. ECEME: Rio de Janeiro. 2023.  

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