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Expansão da influência regional do Irã

Publicado: Quarta, 25 de Outubro de 2023, 01h01 | Última atualização em Quarta, 25 de Outubro de 2023, 16h39 | Acessos: 634

 

João Gabriel Fischer Morais Rego
 Doutorando em Ciência Militares na ECEME.

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1. Introdução

O Irã expande a sua influência pelo Oriente Médio usando diferentes estratégias. O aumento da capacidade de atuação iraniana nesta região provoca instabilidades em diferentes áreas, causando distintas preocupações a alguns países, principalmente aos adversários iranianos regionais, como Israel e Arábia Saudita.

Com foco voltado em expandir e manter a sua área de atuação regional, Teerã apoia diferentes atores, como, por exemplo, o regime sírio de Bashar al-Assad e alguns grupos alinhados aos interesses iranianos, como o Hezbollah. Em vista dessa realidade, esta análise visa abordar algumas estratégias iranianas utilizadas para a expansão da influência de Teerã no Oriente Médio.

 

2. Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica

Para analisar as estratégias iranianas, é necessário mencionar um importante instrumento utilizado por Teerã na sua política externa, a Força Quds. Ela integra o corpo da Guarda Revolucionária Islâmica, criada pelo líder supremo Khomeini, após a Revolução Iraniana de 1979, tendo como principais objetivos a proteção do novo regime contra ameaças de diferentes escalas e atuar como uma organização para contrapor às Forças Armadas Regulares (Artesh), que ainda possuíam membros relacionados ao Xá no seu início (ADGHIRNI, 2014).

A Guarda Revolucionária é observada como um ator que opera em distintos setores no Irã, como na economia, em ações externas de Teerã, no programa nuclear, no desenvolvimento de mísseis de diferentes categorias, entre outras áreas (ADGHIRNI, 2014). A Guarda Revolucionária é relacionada diretamente ao líder Supremo, possuindo divisões internas, como a Força Aeroespacial, Força Terrestre, Marinha, Força Quds e Basij (DEFENSE INTELLIGENCE AGENCY, 2019; COSTA; TRAUMANN; BIEZUS, 2020).

A Força Quds é o principal instrumento iraniano para a condução de ações consideradas não convencionais e externas ao país. Ela se relaciona com atores estatais e não estatais, atuando em distintos níveis. Esta organização possui a confiança do líder Supremo para realizar ações de apoio a grupos armados na região e atua na área de inteligência contra adversários iranianos. A Força Quds fornece auxílio financeiro, treinamento e equipamento para diversos atores alinhados ideologicamente com Teerã. Tais parceiros iranianos permitem um nível significativo de negação na atuação de rivais e proporciona a possibilidade de operações ofensivas contra seus adversários, desenvolvendo um elemento com considerável dissuasão para ações contrárias aos interesses iranianos (DEFENSE INTELLIGENCE AGENCY, 2019). Um dos líderes desta organização foi um dos responsáveis pela expansão da influência e atuação iraniana pelo Oriente Médio: General Soleimani, o qual tinha interesse em reestruturar as relações do Oriente Médio segundo as intenções de Teerã (COSTA; TRAUMANN; BIEZUS, 2020).

 

3. Influência regional iraniana

Para analisar a atuação iraniana em alguns países no Oriente Médio, é preciso identificar alguns objetivos dessa estratégia para sua geopolítica regional. Teerã realiza a sua expansão de influência visando aumentar a quantidade de integrantes do eixo de resistência. A parceria entre o Irã e seus aliados regionais pode ser denominada eixo de resistência. Alguns desses integrantes são a Síria e o Hezbollah (ator não estatal libanês), porém, existem outros. Esta estratégia de Teerã se baseia em alguns fatores: o primeiro é a ideologia, que usa o pensamento anti-imperialista, tendo interesses contrários aos do Ocidente, em especial dos Estados Unidos da América (EUA) e seus aliados regionais, como Israel e Arábia Saudita (TRAUMANN; BIEZUS, 2020). O segundo fator é a segurança, a qual se baseia na balança de poder como sendo um elemento importante na manutenção dos interesses iranianos em um cenário desfavorável para os objetivos de Teerã, podendo também ser visto na lógica defensiva do território do Irã. Desta forma, o Irã visa alcançar seus objetivos securitários e benefícios políticos. Neste cenário, pode-se compreender o eixo da resistência como um caminho utilizado por Teerã para a condução de sua política externa, permitindo que o Irã defenda seus interesses na região (TRAUMANN; BIEZUS, 2020; COSTA; TRAUMANN; BIEZUS, 2020).

Na escala regional, Teerã atua em diferentes países, não necessariamente operando somente na área do eixo de resistência. Desde 2015, a Arábia Saudita realiza uma intervenção militar no Iêmen contra o grupo Houthi - este ator não estatal armado derrubou o governo aliado de Riad e possui o apoio de Teerã para suas operações. Outro assunto que provoca tensões entre Irã e Arábia Saudita é a Hajj. Autoridades sauditas acusam Teerã de desejar provocar instabilidades para afetar o regime de Riad. É interessante mencionar que Irã e Arábia Saudita retornaram a ter relações diplomáticas em 2023, após anos sem as possuir. No Bahrein, existem acusações de auxílio iraniano aos grupos deste país e apoio a movimentos xiitas que buscam mudar o regime do Bahrein, aliado saudita (KATZMAN, 2021).

No caso do Iraque, Teerã visa realizar a sua influência e conter a de rivais, alterando as decisões de líderes iraquianos e expandindo a sua atuação sobre grupos armados pró-Irã. Teerã exerce suas ações sobre os grupos devido a alguns fatores, como o fim do regime de Saddam Hussein em 2003, devido à intervenção militar norte-americana, a qual provocou a ascensão de líderes políticos xiitas, que possuem relações com Teerã. Além desta estratégia, a Força Quds realiza o treinamento, fornece armamento e auxilia diferentes grupos armados no Iraque (KATZMAN, 2021).

No Líbano, o Irã possui um dos seus principais aliados regionais, o ator não estatal armado Hezbollah, este grupo realiza ações para defender os seus próprios interesses e os do Irã de diferentes formas; no fornecimento de treinamento e operando em outros países, como no caso da Síria. Teerã utiliza a Força Quds para apoiar as operações e estratégias do Hezbollah; o Irã também usa o grupo como um instrumento para defender alguns de seus interesses, sendo um fator que causa preocupações a Israel. Além disso, cumpre mencionar que o Hezbollah é uma força política no Líbano e que o auxílio iraniano se baseia no treinamento, ajuda financeira e envio de armamentos para seu aliado regional (KATZMAN, 2021).

O Irã apoia o regime sírio por alguns fatores: o primeiro é facilitar a conexão territorial entre Hezbollah e o Irã, o segundo se deve ao fato de que a Síria é um aliado estratégico de Teerã no mundo árabe. O desejo iraniano pela continuação do governo sírio é suficiente para ocorrer o envio de conselheiros militares da Força Quds para a manutenção do regime aliado na região. Além desta cooperação com o Estado sírio, o Irã auxilia grupos armados na Síria. Além disso, convém destacar que também há a presença do Hezbollah, o qual realiza apoio às operações de Teerã no país (KATZMAN, 2021).

As relações entre Irã e Hamas foram construídas na década de 1990. O Hamas tem utilizado foguetes e outros armamentos fornecidos pelo Irã em suas operações ao longo dos anos. Porém, as relações entre eles nem sempre foram estáveis. Em 2012, por exemplo, ocorreu um distanciamento entre o Hamas e Irã devido às posições divergentes entre os dois sobre o conflito na Síria. Nesse episódio, o Hamas foi contrário à prestação de apoio para as operações desencadeadas pelo governo sírio. Contudo, o retorno das relações entre Hamas e Irã aconteceu em 2017 (KATZMAN, 2021).

 

4. Conclusão

Portanto, observa-se que o Irã realiza ações de apoio a diferentes atores, principalmente para atores não estatais armados. Assim, o país consegue expandir a sua influência sobre outras regiões do Oriente Médio, aumentando a área de atuação do eixo de resistência. O auxílio iraniano a estes grupos armados não necessariamente permite ao Irã o total controle sobre as ações desses atores, que possuem seus próprios interesses, podendo não ser os mesmos de Teerã, como observado anteriormente na divergência entre Irã e Hamas sobre o conflito na Síria.

A expansão iraniana provocou o aumento da instabilidade geopolítica nesta região, sendo ocasionado, em parte, pelas estratégias iranianas contra seus adversários, como os Estados Unidos da América, Israel e Arábia Saudita. É interessante observar que um dos principais instrumentos utilizados pelo Irã nas suas ações que visam o aumento de sua influência regional é a Guarda Revolucionária Islâmica que, através da Força Quds, apóia aliados no Oriente Médio.

Israel e Arábia Saudita possuem ao redor dos seus respectivos territórios, alguns Estados que têm atores pró-Irã, os quais provocam instabilidades nas fronteiras destes dois países. Tais instabilidades causam preocupações aos regimes em Israel e na Arábia Saudita, pois, estes grupos armados, auxiliados por Teerã, podem realizar ações que afetam os interesses sauditas e israelenses, como também pode prejudicar os objetivos do principal aliado externo destes Estados: os Estados Unidos da América. Dessa forma, o Irã, através da estratégia de auxílio a grupos armados e alguns regimes, como na Síria, conseguiu expandir a sua atuação, bem como pôde conter a expansão de seus rivais.

 

 Referências Bibliográficas: 

  1. ADGHIRNI, Samy. Os iranianos. São Paulo: Contexto, 2014.

  2. COSTA, Renatho; TRAUMANN, Andrew; BIEZUS, Devlin. A Política Externa dos Estados Unidos para o Oriente Médio (Obama e Trump): seu impacto no Irã em 2019 e 2020. In: COSTA, Renatho; TRAUMANN, Andrew. República Islâmica do Irã: 40 anos de Khomeini a Soleimani, Cap. 11, p. 275-302, 2020. Rio de Janeiro: Autografia, 2020.

  3. DEFENSE INTELLIGENCE AGENCY. Iran Military Power: Ensuring Regime Survival and Securing Regional Dominance. Washington: U.S. Government Publishing Office, 2019.

  4. KATZMAN, Kenneth. Iran’s Foreign and Defense Policies. Congressional Research Service, Estados Unidos, 2021. Disponível em: https://crsreports.congress.gov/product/p df/R/R44017. Acesso em: 15 de outubro de 2023.

  5. TRAUMANN, Andrew; BIEZUS, Devlin. Da Guerra contra o Iraque ao Programa Nuclear: 40 anos de Política Externa Iraniana. In: COSTA, Renatho; TRAUMANN, Andrew. República Islâmica do Irã: 40 anos de Khomeini a Soleimani, Cap. 5, p. 121-142, 2020. Rio de Janeiro: Autografia, 2020.

 

Rio de Janeiro - RJ, 25 de outubro de 2023.


Como citar este documento:
Rego, João Gabriel Fischer Morais. Expansão da influência regional do Irã. Observatório Militar da Praia Vermelha. ECEME: Rio de Janeiro. 2023.  

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