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O Observatório Militar da Praia Vermelha, o Instituto Militar de Engenharia e o futuro

Publicado: Sexta, 19 de Abril de 2024, 00h02 | Última atualização em Sexta, 19 de Abril de 2024, 03h05 | Acessos: 110

 

Achilles Furlan Neto
 General de Exército e Chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército.

A criação do Observatório Militar da Praia Vermelha (OMPV) figura como aquele tipo de iniciativa que nasceu para ter sucesso, e o seu brilho já se faz presente. Atualização precisa e constante do cenário estratégico nacional e internacional é saudável atitude que não pode ser relegada a um plano de menor importância. Por intermédio do Observatório - em via de mão dupla - o Exército, como parte importante da sociedade nacional, e os demais setores dessa sociedade interagem de modo a serem produzidos análises e estudos dotados das mais adequadas metodologias científicas para mensurar e analisar fatos e futuro. Nesse fórum, militares e civis com elevada competência acadêmica, experiências pessoais e profissionais díspares, congregando diversas áreas do conhecimento humano, interagem auferindo profundidade e amplitude aos estudos e análises realizadas.

Não importa o período da História ou local específico no Mapa Mundi, sociedades que velaram por estudos estratégicos bem feitos conseguiram prospectar futuro com maior precisão. Saíram-se mais bem sucedidas do que outras que patinaram em intermináveis disputas internas decorrentes da falta de objetivos comuns a serem atingidos pelo Estado. E, dentre os objetivos estratégicos que deram resultados disruptivos, os cuidados com a ciência, tecnologia e inovação foram os de melhor relação entre custo e benefício.

No início da era industrial, a descoberta de tecnologias que hoje nos parecem muito simples foram marcos extraordinários e que ofereceram vantagens comerciais, estratégicas e geopolíticas importantes. Os países mais atentos ao futuro tecnológico e que almejavam posições de liderança mundial estabeleceram instituições, leis e políticas para buscarem um melhor lugar no restrito universo daqueles que inovavam. Sem dúvida alguma, suas forças armadas adquiriram numerosas e marcantes vantagens sobre outras com menor desenvolvimento tecnológico.

Se hoje são admiráveis as tecnologias empregadas nos conflitos em curso, como Inteligência Artificial - já até de domínio comercial -, aparelhos não tripulados, guerra cibernética e comando e controle em tempo real, não se pode esquecer do impacto do surgimento dos artefatos e submarinos nucleares, dos mísseis e foguetes de longo alcance, dos aviões, da metralhadora, do rádio e de tantos outros até o já distante surgimento da pólvora. Cada material de emprego militar que surgiu e impactou a doutrina e a arte da guerra tinha lastro em desenvolvimento tecnológico, sem exceção. Os exemplos são incontáveis.

Nesse ponto, faz-se necessário trazer à reflexão que, dentre os ensinamentos registrados na literatura que trata de planejamentos bem elaborados, encontra-se aquele que se refere às pessoas envolvidas no estabelecimento e implantação de políticas advindas de uma estratégia vitoriosa. Embora circunstâncias individuais possam ter uma influência em termos de talento para liderar, tais atores não nasceram prontos. Muito trabalho, muito estudo, muita leitura e exaustivas discussões são fundamentais para a formação de empreendedores e de formuladores de políticas de estado.

É nesse contexto que a participação do Instituto Militar de Engenharia no Observatório Militar da Praia Vermelha é excelente ideia. Além de líderes e planejadores não nascerem prontos, não costumam ser escolhidos por uma etérea entidade. Eles surgem, emergem em meio a vários que também possuem características interessantes, mas não se provaram nas vicissitudes, nos momentos de crise. Os atores que irão fazer a diferença apresentam-se como os mais adequados porque se comportaram de maneira diferente ao longo de toda a vida ou, durante um período específico de uma crise, foram serenos, enérgicos e apresentaram a melhor solução para a vitória. Se existe uma maneira que pode fazer florescer cada vez mais pessoas com essas características, unir os de formação bélica com os de formação científica em um ambiente acadêmico do nível do OMPV é, certamente, uma delas.

Nesse ambiente, as óbvias diferenças entre a formação bélica e a científico-tecnológica são atenuadas. Longe de competirem, complementam-se perfeitamente. Moldam-se equipes que, à luz do cenário nacional e internacional, contam com diferentes aproximações para assuntos que não podem ser tratados sob a prevalescência de uma ótica específica. Muda-se, também, a atitude dos que passam por essa experiência multidisciplinar. As equações que imaginavam adquirem novas e poderosas variáveis, de ambas as partes, e a sinergia final paga muito bem. Reputo esse dividendo como um ativo marcante para os futuros planejadores, formuladores de políticas e líderes para o Exército Brasileiro e para os demais setores da sociedade.

Outro efeito, por mais doméstico e simples que seja, é a apresentação de uma Escola à outra. O Instituto Militar de Engenharia e a Escola de Comando e Estado-Maior desfrutam praticamente do mesmo endereço. Separadas pela Praça General Tibúrcio de cerca de duzentos metros, só podem se conhecer se os integrantes de ambas trabalharem juntos. Edificações não criam laços. Pessoas sim. Nada melhor que trabalho conjunto para unir pessoas de bom propósito. A rotatividade do corpo docente e do discente é tamanha que, muito facilmente, existem integrantes de uma ou da outra Escola que nunca visitaram as instalações dos dois prédios, tão arquitetonicamente harmonizados e vizinhos de frente. Imagine-se como fica mais complicado ainda o entendimento do ethos acadêmico um do outro, ou os planos e projetos para o futuro, sem se conhecerem.

Na medida em que o futuro da Força é, inescapavelmente, o mesmo para os de formação bélica ou científica, é de grande importância o trabalho acadêmico integrado entre o Instituto Militar de Engenharia e a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército. Ambas as Escolas nasceram das mãos de formadores de políticas para o Exército que visavam à formação e preparação de recursos humanos diferenciados.

Vejo, sem espaço para dúvidas, que a oportunidade de trabalharem juntos, IME e ECEME, no Observatório Militar da Praia Vermelha, é estratégica. Vai render muitos frutos para o futuro.

Um bom trabalho para todos!

 

 

Rio de Janeiro - RJ, 18 de abril 2024.


Como citar este documento:
Furlan Neto, Achilles. O Observatório Militar da Praia Vermelha, o Instituto Militar de Engenharia e o futuro. Observatório Militar da Praia Vermelha. ECEME: Rio de Janeiro. 2024.  

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