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O Observatório Militar da Praia Vermelha e a integração das linhas de ensino militar bélica e científico-tecnológica

Publicado: Sexta, 19 de Abril de 2024, 00h02 | Última atualização em Sexta, 19 de Abril de 2024, 21h13 | Acessos: 567

 

Richard Fernandez Nunes
 General de Exército e nomeado para a função de Chefe do Estado-Maior do Exército.

Dentre os significados listados nos dicionários para o vocábulo “observatório” encontra-se o de instituição que se dedica à observação, ao acompanhamento ou à divulgação de determinados fenômenos ou informações.

Tradicionalmente, a ideia de observatório nos remetia à Astronomia, à observação de corpos celestes. Mas, em tempos mais recentes, o termo passou a ser cada vez mais empregado para tratar da produção e divulgação de informações nas mais diversas áreas e, inclusive, para instrumentalizar a participação do público interessado.

A par dessas considerações, ao assumir o comando da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), determinei estudos para a implantação de um observatório, capaz de permitir a reunião do amplo e variado conhecimento acerca das ciências militares produzido em nossa “Escola do Método”.

Após intenso período de discussões e contribuições de vários segmentos da Escola, aí incluídos o Instituto Meira Mattos (IMM), o Curso de Política, Estratégia e Alta Administração do Exército (CPEAEx), a Seção de Estratégia e Administração (SEA), a Divisão de Doutrina (DD), enfim, de grande parte do diversificado corpo docente da ECEME, que conta com representantes de nações amigas, com professores civis e militares da ativa e da reserva, todos altamente qualificados, chegou-se a uma modelagem inicial para o observatório vislumbrado.

A referida modelagem contemplava os temas a serem apreciados, o veículo de divulgação a ser utilizado, a forma de apresentação do conteúdo e a definição de responsabilidades pelas análises. Foi de grande valia a participação de alunos de engenharia cartográfica do Instituto Militar de Engenharia (IME), os quais, sob a coordenação do instrutor do Curso de Direção para Engenheiros Militares (CDEM) da ECEME, construíram a plataforma de geoprocessamento para o site do observatório. Com esta iniciativa, começava a se manifestar a desejável integração entre as linhas de ensino militar bélica e científico-tecnológica.

No prosseguimento, por meio de publicação no Boletim Escolar nº 174, de 20 de setembro de 2017, foi criado o Observatório Militar da Praia Vermelha (OMPV), com a missão de realizar estudos políticos e estratégicos de interesse da área militar, em particular do Exército, bem como de contribuir para o incremento e a difusão da mentalidade de Defesa junto à sociedade, valendo-se das diversas metodologias empregadas na ECEME, dando um tratamento multidisciplinar às questões analisadas.

Inicialmente, foram selecionadas oito áreas temáticas, a saber: 1) Conflitos Bélicos; 2) Sistemas de Armas; 3) Terrorismo; 4) Missões de Paz; 5) Guerra Cibernética; 6) Movimentos Populacionais; 7) Crime Organizado Internacional e Segurança Pública; e 8) Recursos Naturais e Fontes de Energia. Sob a coordenação do IMM, cada um desses tópicos deveria ser observado por um grupo de trabalho composto por um coordenador militar; um coordenador acadêmico; observadores, incluindo os diversos instrutores e alunos de nações amigas; adjuntos de coordenação (alunos do PPGCM-Programa de Pós-graduação em Ciências Militares); e colaboradores externos.

Dentre as formas de divulgação dos trabalhos do OMPV, destaca-se a elaboração de análises estratégicas apoiadas em mapas temáticos, desenvolvidos por meio de software de geoprocessamento[1], que proporcionam um aprimoramento das práticas pedagógicas da Escola e são disponibilizados aos diversos órgãos do Exército e entidades parceiras, assim como para toda a sociedade.

Decorridos cerca de seis anos e meio de sua criação, o OMPV já apresenta respeitável portfólio de entregas. Sua primeira grande contribuição ocorreu logo nos primeiros meses de funcionamento, quando se dedicou ao acompanhamento da Intervenção Federal na área da segurança pública no Rio de Janeiro, decretada em fevereiro de 2018. Em meio a uma profusão de atores engajados na construção de narrativas acerca daquele período, o OMPV foi um dos que conseguiu manter-se academicamente isento, produzindo farto conteúdo, disponibilizado a pesquisadores comprometidos com a verdade histórica[2].

Outras entregas têm ocorrido, conferindo ao OMPV considerável relevância. Para isso, ajustes têm sido feitos nas “lunetas” da Praia Vermelha. As áreas temáticas continuam oito, mas foram reorganizadas ou modificadas. Atualmente, são elas: 1) Conflitos Bélicos e Terrorismo; 2) Ciência, Tecnologia e Inovação para a Defesa, Desenvolvimento e Segurança Nacional; 3) Geopolítica e Defesa; 4) Missão de Paz; 5) Defesa Cibernética; 6) Movimentos Migratórios e Segurança na Faixa de Fronteira; 7) Segurança Pública e Crime Organizado Internacional; e 8) Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear (DQBRN).

Com essa arquitetura temática, o OMPV tem organizado eventos; realizado pesquisas de campo; participado de programas junto a diversos órgãos de mídia; e publicado livros, artigos, análises e resenhas. Essa vasta produção cobre, desde os conflitos entre a Rússia e a Ucrânia e entre Israel e o grupo terrorista Hamas, até os eventos ocorridos em Roraima, envolvendo o acolhimento aos imigrantes venezuelanos e o atendimento aos indígenas Yanomami. Além disso, tem atualizado e consolidado, de modo sistemático, a imensa experiência acumulada pelo Exército Brasileiro nas questões afeitas à DQBRN.

Desta forma, o OMPV tem-se constituído em importante instrumento da Comunicação Estratégica do Exército Brasileiro. Em um ambiente informacional que tenho caracterizado pelo acrônimo PSIC[3], ou seja, precipitado, superficial, imediatista e conturbado, é significativo que haja um observatório que veicule conteúdos militares com cautela, profundidade, oportunidade e isenção. Se tanto já foi obtido em tão pouco tempo, as expectativas para o futuro são ainda mais animadoras.

Para isso, é desejável aumentar o alcance e a precisão das “lunetas” da Praia Vermelha. Nesse sentido, a parceria entre o Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx) e o Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT), por meio da ECEME e do IME, vem a calhar. A recente atribuição da área temática Ciência, Tecnologia e Inovação para a Defesa, Desenvolvimento e Segurança Nacional ao IME qualifica ainda mais o OMPV e fortalece a imprescindível integração entre as linhas de ensino militar bélica e científico-tecnológica, esboçada quando da criação do observatório

 

[1] QGIS: software livre de geoprocessamento que possibilita a manipulação de base de dados geoespaciais matriciais e vetoriais em um ambiente de banco de dados geográficos. Disponível em: www.qgis.org/en/site/. Acesso em: 28 de setembro de 2017.

[2] Entrevista concedida à Revista do Clube Militar (Ano XCIV, nº 470, set. 2018, p. 6 a 9). Disponível em: www. calameo.com/read/0018195982baeba41e5eb. Acesso em: 02 de abril de 2023.

[3] O Mundo em Acrônimos e a Comunicação Estratégica do Exército. Disponível em: eblog.eb.mil.br/index.php / menu-easyblog/o-mundo-em-acronimos-e-a-comunicacao-estrategica-do-exercito.html#:~:text=A%20prop%C3 %B3sito%20do%20uso%20deste,disponibilizado%20na%20Era%20do%20Conhecimento. Acesso em: 02 de abril de 2023.

 

 

Rio de Janeiro - RJ, 18 de abril 2024.


Como citar este documento:
Nunes, Richard Fernandez. O Observatório Militar da Praia Vermelha e a integração das linhas de ensino militar bélica e científico-tecnológica. Observatório Militar da Praia Vermelha. ECEME: Rio de Janeiro. 2024.  

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