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O ensino na ECEME durante a pandemia da covid-19 - Lições aprendidas

Publicado: Quarta, 14 de Outubro de 2020, 14h29 | Última atualização em Sexta, 06 de Novembro de 2020, 08h14 | Acessos: 1980

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Robson Pinheiro Dantas

Instrutor da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

O final do ano de 2019 ficou marcado com o surgimento de um novo vírus, nomeado como SARSCoV-2. Este tipo de Coronavírus tem como consequência a doença classificada como COVID-19 (WHO, 2020).

As primeiras notificações do vírus ocorreram na província de Wuhan, na China, em dezembro de 2019, com alta taxa de transmissibilidade e provocando síndromes respiratórias agudas (CARPES, 2020). Em pouco tempo, a doença tornou-se uma pandemia, surgindo como um problema inédito e complexo, pondo à prova as capacidades de cada Estado Nacional (NASCIMENTO et al, 2020).

No final do mês de fevereiro deste ano, o Ministério da Saúde brasileiro confirmou o primeiro caso da COVID-19 no país (BRASIL, 2020). Ao serem seus países alcançados pela pandemia, os governantes nacionais viram-se obrigados a adotar medidas restritivas à circulação de pessoas, com impacto direto nas atividades sociais, econômicas e educacionais.

Não obstante, o engajamento das Forças Armadas brasileiras no combate à pandemia ocorreu desde seu surgimento, iniciado com o resgate dos brasileiros na cidade chinesa de Wuhan, sendo esta, a primeira resposta nacional à crise instalada (SILVA JÚNIOR, 2020).

As Forças Armadas foram consideradas como “atividade essencial” no escopo da pandemia, devendo manter seus níveis de operacionalidade e prontidão (BRASIL, 2020a). Face aos novos desafios provenientes da situação atípica, o Exército Brasileiro (EB) engajou-se diretamente no combate ao Coronavírus, adotando uma série de medidas tanto operacionais como sanitárias.

A Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), inserida no Sistema de Educação e Cultura do Exército, se adequou aos novos regramentos estabelecidos pelo escalão superior, modificando sua rotina e priorizando a saúde de todos os integrantes da Escola.

O ineditismo da situação fez com que a ECEME se moldasse, de maneira gradativa e contínua ao longo deste ano. À medida em que novas informações surgiam sobre a pandemia, o Comando da ECEME analisava a situação e escolhia a linha de ação que proporcionasse, na justa medida, a segurança dos nossos militares e a manutenção das atividades escolares. Para tal, foram adotados novos procedimentos por meio de protocolos sanitários, visando à adaptação do ambiente escolar à nova realidade.

Inicialmente, após extrair as diversas orientações do escalão superior, as primeiras ações foram voltadas para os cuidados médico-sanitários, com a expedição da Diretriz Especial para Atuação em Prevenção ao Coronavírus na ECEME, no dia 17 de março de 2020. O documento estabeleceu protocolos, com a finalidade de regular os procedimentos de conscientização, mitigação dos efeitos e medidas preventivas para minimizar os impactos da pandemia.

De forma imediata, todos os integrantes da Escola que se enquadraram na situação de grupo de risco1 foram afastados preventivamente de suas atividades presenciais, executando o teletrabalho a partir de suas residências.

A determinação do acesso único para todos os integrantes e visitantes ao aquartelamento facilitou o controle sanitário por parte do recém instalado posto de triagem, evitando que pessoas adentrassem à Escola com os sintomas característicos da doença e, ainda, realizando a higienização de pés e mãos para evitar a presença eventual do patógeno.

Concomitante com a aplicação das medidas sanitárias, a Divisão de Ensino (DE) planejou os impactos, as consequências e os reflexos advindos da nova realidade mundial, reestruturando o calendário escolar.

Desta forma, foram incrementados o uso de plataformas digitais, possibilitando ministrar conteúdos por meio do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). Tal medida permitiu que, durante o período de incertezas iniciais da pandemia, todas as atividades dos alunos fossem realizadas em suas respectivas residências.

No mês de abril, as atividades presenciais foram retomadas, com as devidas medidas de prevenção do contágio. Para tal, tornou-se obrigatório o uso de máscaras, adotou-se um maior distanciamento entre os discentes, proibiram-se as aglomerações e os cursos passaram a funcionar em turnos separados (manhã e tarde).

Todos as viagens de estudos e exercícios no terreno foram suspensas e as atividades de palestras foram realizadas por meio de videoconferências. Outras atividades foram deslocadas para o 2º semestre, aperfeiçoando planejamentos e acompanhando a evolução da Pandemia.

A produção de conhecimento provenientes da ECEME não foram afetadas pela pandemia. Neste período, o Observatório Militar da Praia Vermelha publicou diversos artigos de opinião e científicos sobre o assunto, oferecendo à sociedade análises sóbrias, concisas e opiniões embasadas em farto referencial bibliográfico. Não obstante, as atividades dos cursos do Programa de Pós-Graduação do Instituto Meira Mattos continuaram ocorrendo à distância, com as devidas adequações tanto para aulas como para as qualificações e defesas de teses de doutorado e dissertações de mestrado, evitando que os alunos de mestrado e doutorado fossem prejudicados no tempo de execução de seus cursos e obtenção de suas titulações.

As dificuldades advindas do complexo cenário imposto, também geraram oportunidades. Foi realizado, sob coordenação da Seção de Política e Estratégia, a aplicação integrada do ensino na ECEME do caso real da pandemia COVID-19. Pela primeira vez, os alunos puderam aplicar os conhecimentos adquiridos em sala de aula dentro de um contexto de crise real e atual, com características voláteis, incertas, complexas e ambíguas.

Diante desse desafio, os cursos receberam a incumbência de produzir trabalhos científicos com as seguintes temáticas: Metodologias do Planejamento Baseado em Capacidades e do Processo de Planejamento Conjunto (Curso de Política, Estratégia e Alta Administração do Exército); Geopolítica e Teorias do Poder (Curso de Comando e Estado-Maior 1º ano); Planejamento Operacional e Tático (Curso de Comando e Estado-Maior 2º ano); Planejamento de Ciência e Tecnologia utilizando a Pesquisa Operacional (Curso de Direção para Engenheiros Militares); Enfrentamento da pandemia nos respectivos países com ênfase na Defesa (Curso de Comando e Estado-Maior para Oficiais de Nações Amigas e Oficiais Instrutores de Nações Amigas); e Comunicação Estratégica (Divisão de Doutrina).

Com o passar do tempo, já no segundo semestre, o Sistema de Saúde do Exército conseguiu se estruturar de forma a disponibilizar testes que, começaram a ser aplicados em maior escala. No Rio de Janeiro, o Instituto de Biologia do Exército (IBEx) ficou com esta incumbência.

A realização do teste imunocromatográfico em todos os integrantes da ECEME foi uma ferramenta de controle essencial e imprescindível para que se pudesse ter a exata noção do alcance e impacto da doença. A ECEME estabeleceu a meta de testar todo o seu efetivo, iniciando os testes pelos alunos e pelos militares assintomáticos. Nos casos em que os exames indicaram anticorpos IgM (Imunoglobulina M) reagente, os militares foram afastados do trabalho imediatamente, pois a presença desses anticorpos indica que a pessoa foi infectada pelo vírus, independente se apresentou sintomas graves, leves ou assintomático (WHO, 2020a).

Tal medida preventiva mostrou-se extremamente eficaz, pois foram identificados e afastados militares nessa situação, antecipando-se ao contágio de outros militares. Portanto, tal medida colaborou diretamente no controle da disseminação do Coronavírus na Escola.

Além do cuidado com o estado de saúde dos alunos, a ECEME atentou também para a família dos discentes e docentes. Foram realizadas palestras motivacionais para as esposas dos alunos, bem como disponibilizada assistência religiosa utilizando a plataforma de videoconferência e, em alguns casos, de forma presencial em cada residência, colaborando para melhorar o conforto espiritual de forma mais ampla.

De modo a retificar ou, ainda, aperfeiçoar o planejamento realizado no início da pandemia, foram produzidos diariamente diversos gráficos para acompanhar a evolução dos casos, tendo como base de dados os relatórios de contágio e sintomas observados dos diversos setores da Escola. Assim, o controle da curva de casos acumulados, da razão de crescimento em relação ao dia anterior e da relação de novos casos por semana mostrou-se uma forma eficaz de acompanhamento por parte do Comando, propiciando a capacidade de “intervir no combate” em momento oportuno. Foi calculada ainda, de forma semanal, a velocidade de crescimento da curva de casos suspeitos, de modo a comparar a quantidade de novos casos em um intervalo de sete dias.

Dessa forma, ao término do semestre, os alunos puderam desfrutar do recesso escolar com duração de uma semana, pois os conteúdos das disciplinas estavam de acordo com planejamento anual de ensino, ressalvadas atividades com público externo ou, ainda fora das instalações da ECEME.

Outra atividade de extrema importância para a ECEME e para o Exército foi a realização do Concurso de Admissão à ECEME 2020. A situação atípica implicou no adiamento do processo seletivo em dois meses. Tanto a Escola como as dezessete Guarnições (cidades) em que foram aplicadas as provas se moldaram às exigências sanitárias e o processo transcorreu normalmente, evitando assim a solução de continuidade na seleção de quadros compostos por Oficiais Superiores como corpo discente para 2021.

O ineditismo da situação e os impactos causados pela COVID-19 são desafios para os gestores em todos os níveis. A incerteza e a insegurança induzem alguns tomadores de decisão a adotar medidas pouco pragmáticas.

O militar, em sua essência, é forjado para atuar na adversidade e nos momentos de crise. O Oficial de Estado-Maior é lapidado para oferecer soluções aos problemas complexos e inéditos, seguindo uma metodologia definida. Essa foi a postura adotada pela ECEME, implementando as medidas sanitárias necessárias e, monitorando constantemente os casos. O foco principal sempre esteve balizado no bem estar dos seus integrantes e na manutenção das atividades escolares para a capacitação de recursos humanos essenciais para o desempenho das atividades inerentes ao Exército.

Portanto, da experiência observada e vivenciada nos primeiros meses da Pandemia, fica evidente o acerto no controle diário e ininterrupto da evolução do contágio da doença no público interno e familiares, bem como o acompanhamento da conjuntura no Brasil e no Mundo como forma de buscar parâmetros de comparação da evolução do quadro e dos meios para combater a sua maior disseminação. Adicionalmente, as ações e protocolos adotados pela Escola somam-se aos demais aspectos, construindo importantes lições aprendidas em um cenário global ainda pandêmico nos curto e médio prazos.

 Rio de Janeiro - RJ, 14 de outubro de 2020.


1 Para inclusão no grupo de risco, levou-se em consideração a idade (maiores de 60 anos) e possuidores de comorbidades (hipertensão, diabetes, doenças cardíacas ou respiratórias etc.).

 

Como citar este documento:

DANTAS, Robson Pinheiro. O ensino na ECEME durante a pandemia da covid-19 - Lições aprendidas. Observatório Militar da Praia Vermelha. ECEME: Rio de Janeiro. 2020.

 

Referência:

  1. BRASIL. Ministério da Saúde. 2020. Brasil confirma primeiro caso da doença. Disponível em <https://www.saude.gov.br/noticias/agenciasaude/46435-brasil-confirma-primeiro-caso-de-novocoronavirus>. Acesso em 7 de julho de 2020.

  2. BRASIL. Decreto nº 10.282, 20 de março de 2020. Regulamenta a Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020, para definir os serviços públicos e as atividades essenciais. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ato20192022/2020/decreto/D10282.htm>. Acesso em 7 de julho de 2020a.

  3. CARPES, Mariana. Covid19 no Brasil e a importância das medidas de isolamento social. Observatório Militar da Praia Vermelha. Rio de Janeiro: ECEME. 2020.

  4. NASCIMENTO, Gustavo Daniel Coutinho et al. O Planejamento Estratégico Nacional de enfrentamento à Pandemia COVID-19: uma visão integradora, nos níveis Político e Estratégico. Rio de Janeiro: ECEME. 2020.

  5. SILVA JÚNIOR, Maurilio Ferreira da. Corona Vírus e a Base Industrial de Defesa. Observatório Militar da Praia Vermelha. Rio de Janeiro: ECEME. 2020.

  6. WHO, 2020. Pneumonia of unknown cause – China. Disponível em <https://www.who.int/csr/don/05january-2020-pneumonia-of-unkown-cause-china/en>. Acesso em 7 de julho de 2020.

  7. WHO, 2020. Q&A: Serology and COVID-19. Disponível em <https://www.who.int/emergencies/diseases/novelcoronavirus-2019/question-and-ansewers-hub/q-aserology-and-covid-19>. Acesso em 11 de julho de 2020a.

 

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